PRIMEIROS FUMOS DA CAÇADA ÀS BRUXAS
Publico aqui um poema que jamais publicarei em livro. Não que seu momento tenha passado, visto que os problemas expostos aqui continuam a nos dificultar a existência, incluindo a perseguição publicitária que os governantes do mundo fazem contra os fumantes, transformados em bodes expiatórios dos males atmosféricos causados, principalmente, por uma indústria e por veículos automotores que não estão de acordo, nem com o princípio da sustentabilidade, e muito menos com as preocupações referentes à qualidade de vida da humanidade.Ocorre que o tipo de escrita quase panfletária que usei na época, que me valeu o rótulo de "ultra-esquerda de vanguarda" (eh, eh), não é hábito meu,
Outro motivo que me leva a publicá-lo agora é o fato de que, tendo este poema sido refeito há pouco tempo, em sua estrutura sintática, por um equívoco na edição troquei a palavra "monóxido" por "dióxido". Visando apagar algum resquício de pontuação, apaguei a palavra original e a substituí por outra, semelhante em seu significante, equivocadamente. Se tivesse estudado mais química e estudado menos a minha percepção do ar que respiro, talvez não tivesse me enganado assim na dita edição do poema.
Mas deixo aí o poema, interessante para quem nunca esqueceu as crianças acéfalas tão noticiadas há alguns anos atrás, e também para quem sofre discriminação social e até agressões nas ruas pelo simples fato de ser fumante.
E quais são as causas desta tragédia de muitos? Provavelmente a intenção de economizar alguns tostões com a previdência, o sistema de saúde, etc.
17.07.96 - por ocasião da Medida Provisória que primeiramente coibiu o fumo de tabaco em alguns recintos no Brasil
naquela nem manhã manhã
nem sol fumava um cano de descarga
ao meu lado pela avenida
e era tosse e vinha o vômito
do monóxido que me entrava
fossa adentro das narinas
e eu nem idéia tinha
que mais poeta e para a margem
naquele dia eu acordava
mais uma lei ali me empurrava
foi sr. presidente assim o decreto
em ambientes mais obtusos
era onde a lei já se cumpria
à riscado e em linha reta
MANTENHA O AR PURO
NÃO FUME
É PELA SAÚDE DE TODO O MUNDO
diziam já os cartazes
eu era o fumante pasmo com mais um feito
de apartheid e perguntava
e saúde dos que dormem
na rua mesmo barriga rosnando
na coberta fria de ar
deste meu nada amoenus locus no sul
só um exemplo
e que lei que me protege do dragão
que é cada carro e da atmosfera
que se enfumaça pela usança
de cada produto industrioso nosso
e
ora mas tudo isso
é muito
do necessário
já vinham dizendo
no êxtase ainda
os anti-tabaco mas não
pra mim que ando a pé
tem necessidade do seu carro
e pra mim que preciso
é necessário o meu cigarro
que cada qual que um a um
fumo é um dom de ver
a tanta coisa irrespirável
e ao deus ignoto prouvera outra coisa
vão lá governos governadores do goela abaixo
dar remédio na boca de fartura felicidade
e ver as bruxas ali logo embaixo
das suas fuças
e ao menos se não isso
tenham a nobreza não de aristocrata
não me distraiam um povo
com mais esse circo
de discussão tão boba de babaca
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