Apresentação
Poema
em idioma “quedense”, de Solivan Brugnara, poeta de Quedas do Iguaçu, Paraná. Dando continuidade real ao projeto dos mais programáticos
poetas do modernismo brasileiro de 1922, buscando uma linguagem real, por
tentativa de cópia do realmente falado. Porém, no ponto em que estamos depois
de Simões Lopes Neto, Guimarães Rosa e Manoel de Barros (para alguns,
simplesmente, Mané), de reproduzir a sintaxe da língua oral cotidiana e/ou
popular, ou reproduzindo os mecanismos criativos da língua falada, como fazia
já Guimarães Rosa e o faz Manoel de Barros.
***
A mineração do eu no outro
D’ia
Trabaiei poco co
pai dele, eu morava nas lonjuras
dos canhadão do
Mato Queimado,nos cafundó,
uns arguere adiante
donde o diabo perdeu as bota.
Ia di a pé pra
cidade, galo inda cantava,
triste decha a
roça,virava pra oia otra veis
a veia co chimarão
no rancho luniado de lanpião,
e sumia na seração.
Tinha de cruza
quizaza, potrero, piranpera, pinherá,
taguará de tudo
quanto é lado pra chega na Queda.
Daí dormia no
patrão, nos fundão, na dispensa junto co traiedo,
pertado, parecia té
patente, briava de varejeira,
eu dipindurava unas
carça, japona, tudo ensacado
no prego das
lingüiça e ia pro serviço.
A moradia era de
pinhero prantado por graia azur,
dubado de bosta de
anta,mijo de tigre.
Pinhero dos
grande,unhava céu,
florado muita pinha
te se serrado.
De frente da casa
era cidade, tráis mato,
te os passarinho
erum deferente,
pardar dum lado
,nos poste de luiz
e canarinho dotro,
nos matagar.
Pra diante
ia pras bodega,trabaia
de bastece as tobata,os toreiro,
nus domingo vê
firme,nas matine do Mazzaropi,do Texerinha.
Sábado pros baile
ranca rabo, dança vanera, panha dos polaco
corre das tiraiada.
Nos fundo
arma rapuca, roba
mio, melancia.
Sistia poco teve,
oiá qui era benzida pelo Padre Sismundo,
problema que
invergonhava, vermeava de i na sala
e do mais, na teve
não tinha butiá, quero-quero nem lambari.
Tinha a tar das
novela e firme de tiroteio,
de bichinho que
falava.não gosto, mais o Soile gostava,
tarde intera,
despois pintava osso do peito
de galinha e dizia
que era nave espaciar azul.
Bão também Jogava
bulica, futebor nas estrada, nos campinho,
voltiava de
bicicreta, ia pega bergamota lá nos confins do Judá.
Quando tinha
pechada de carro, velório,
baleado no
samambaial, em bodega,
um pia espaiava
pro’tro e ião de turmada na novidade.
Ate vaca morta
cheia de corvo iam vê.
Pia é bicho do
jchãnho.
Despois se pelava
de medo de baleado parece de noite
pegava a durmi só
de luiz acessa.
Te parece, luiz não
espanta sombração,
tem que faze
benzimento, joga água benta pra resorve.
Via lobisome,
e oiá qui lobizome
daqui não é bicho do brabo,
chupa ovo, pega
galinha manca, distrambeia na primeira acoada.
Deve ser cruza de
home com quaipeca manso, quaipecalome.
Pra esses lado
nunca vi fala de lobizome taca gente.
Boitatá intão, qui
nos canhadão, nois doma,
usa pras lida,traze
tropa de melore,da vortiada,
faze pinhão no
fogaredo da crina,
pinhão mio só
assado na grimpa.
Que sombrava memo
era a Kombi branca que seqüestrava,
marava na soga,
bem,dava nó,levava pra taquarazuzar,
tirava as morcia,
os bofe da piazada e vendia pros estrangeiro,
despois atirava os
guri no Iguaçu, na seva das traira.
De visage, repiava
a muié de seração que rodiava o cemitério veio.
E otro qui de veiz
em quando parece
avoando na praça de
buchada pra fora.
Que dá tira desmata
na sexta fera santa,dia de resguardo
o pinhero caiu em
riba dele qui istribucho.
O Soile não queria
sabe de i pra aula, burro que era uma anta,
rodava, istudiava
só na suiterada,no laço.
O dele é cata
fruitinha do mato, se metia nas capoira
trais de sete
capote,maria-preta,coquinho,ponta de grimpa verde.
Tinha té carero pro
vacum,tudo que male mar dava pra vê,
tudo piqueno,vacum
intão é pingo d’sangue.
De boa
jaracatiá,banana de mico, riticum, só no mais longe.
Era mintiroso,
mintiroso, gargantiava
que tinha luitado
cum jiboia numa quizaza de preá.
Amostrava ranhado
de taguaruçu e dizia que era dentada de onça.
As veiz se fazia de
índio, cum pena de carijó,
se a negada do
posto via, gozava,vinha de pedrada.
Mais gostava memo
era de gibi,
ia pega na livraria
do Seu João.
Seu João tinha
prédio bão, de primera,feita de materiá,
teiado de ternite,
teia é coisa veia, casa boa tem ternite.
Tamanho de duas,
uma cima dotra,
baxo
gibi,caderno,cima moradia,
de zulejo bunito
,enfeitado de flor.
De veiz eu garrava
compra um caderno, mais nas vendaiada,
Pra faze palhero,
de foia caderno é mais atuar,
inte parece cigarro
da holiude.
Seu João ensinava
cartilha n’aula
interigente, sabia
das Bibria,dos jorna.
Morada na bera da
igreja.
Igreja
bonita,parecia com das Europias,das de foinha,
co vermeio das
chaga de Jesuis.
Mais do longe, nem
parecia se de anjico.
Padre Sismundo, ia
pras linha de matungo veio, cabado.
Quele tempo, de
tráis, nem tinha estrada,
ia pelo carrero
feito no fação pros interio,
no caminho da onça,
facir pisa em urutu,cascaver,
tinha de travesa
matagar do brabo, chegava ardido de urtiga,
espinhado de cipó
unha de gato, inchado de abeia.
Hoje já tem
condução tudo facir.
Rezava missa bunita
,enveredava pros conseio,
dava sermão pras
muié que ia de saia curta pra igreja.
que usavum islaque.
Tinha ocurus de
grussura,tanto lé, acho,cansa as vista.
Assunta como se
comprava ocurus d’grau.
Ia na venda
mió,maió, nas do Franzoni,
lá tinha balaio de
taguara cum monte de ocurus,
escoia,ficava pondo
e tirando dos óio té um acenta,
té vê bem as
coisa,se não nuviava mais as vista
comprava,o Falecido
pai comprava ansim.
Então,vortando, o
Soile garrava no gibi
de veiz em
quanto,eu zoiava um tar de Tequis,
de outro, co de
pitanga ,visage,
alembrei Fantasma,
prestado do Irson.
Mais i os dele era
outro,via os não seioquelá dos homeranha
e saia luita com
samambaia, mandioca, mata-campo,
entrava só pra pega
pão moiado com açúcar
e gasosa Serramarte
e vortava pras guerra.
Eu tenho radinho,
de prastico marelo bunito.
Escuito futebor,
jogo do inter ,violero, pograma de pulicia.
Quando fui pra
Sarto do Lontra passiá,
toquei de compra na
rodoviária um vrinho de fareste.
Sabe que inte foi
bão vé o vrinho,
quando vortei
deitei no pelego
e oiei debaxo da
cabriúva de carnea vaca.
Mas não comprei
mais,demais de caro,
tinha que guarda
pras pia.
Tinha uns de muei
pelada,de teta tudo de fora,
escundi no paió, os
rato roeram as mió parte.
Desgraça de
rataiedo.
A mãe campeava se
catasse ia pro fogo, virava lenha.
O Soile
parecia que nunca
tava onde tava,
na rede dizia que
tava num caico
e balangava inte no
teto,
o teto tinha mais
pezada
que a entrada da
moradia.
Subia no teiado,qui
era a lua e despois.
se destrambeiava de
guarda chuva lá do arto.
Oia,não sei como
não se quebrava.
Piá tem bicho
carpintero no coro.
A casa? era bunita,
a dele, grande.
Qui em Queda, eitá
lugar de moradia tudo iquar,
parece um
c’otro,num tem sobrado cum sotam,nem porão.
Tudo quanto é
teiado abre asa pra direita, faze área.
O gente pra gosta
de uma área.
“Entra” é só modo
de dize, se traiz as cadera
e as visita fica no
fresco.
Área é o abraço da
casa,
lugar de recebe os
cunpadre, toma chimarão.
Tem servendia de
garage também,
se chega a
parentaida e só vastra o fusca.
A moradia dos
bonado são parecida, muda só tamanho
ou feita de
materiá, teido de ternite,
mais o jeito é mema
coisa.
Otra deferença me
toca dize
é onde se pranta as
pranta,
samambaia, espada
de São Jorge tudo mundo tem,
só que nos de
dinheiro é no vasos,
as outra, dos
minquera, é no galão de tinta Rene.
A do Soile era de
samambaia no vaso
é rico é bicho
fraco memo, bardoso
o piazedo não
gostava, decha de lado.
No futebor parece
chuta purungo,
na bolica, não
certa na caseada, no bulico,
num sabe sorta
pandorga fica distranbeiada,num avoa.
Ai pegava de fica
tempo enchaviado,
cós sordadinho de
paper tizorado, guerriando.
Escuitava da porta
dando tiro de metralhaiadora ca boca.
te ingraçado vê,
num dexava entra, de jeito manera.
Ma lazerento de
ruim memo era no bodoque.
Veis co primo dele
chego, fizero um de borracha cansada
e forquia de
basorinha, oia não prestava pra nada.
E saíram campiá
passarinho, não certaro um,
daí, aresorverum de
pega da gaiola
o papagaio peito
roxo da famia,
cortaro as pena
d’asa e sortaro.
E dele que dele
pedrada no coitado.
truchero o bicho
depenado
pra mostra qui
consequirum caça.
Despois qui a Dona
Tere discubriu
que era o papagaio
peitoroxo dela
as piazada panharum,
mais panharum
de fica vergão nos
lombo.
Eu quando era
novo,lá nos canhadão
carpia as roçada
debaxo de sor,
o de friu de racha
os beiço,a zorelha.
Gostava de vê carro
passa, corre di atrais,te não pude,
despois ficava
vendo os rastro dos peneu.
Te cubria as marca
cum foia de parmera
pra dura
mais,protege dos temporá.
Ficava chola de
mostra pros outro
que passava
artomover na nossa roça.
Catava pedra
caprixada pro bodoque
e ia mira na pinha
dos sabiá na amorera,
no peito das juriti
nos gaio da canafrista seca.
Pegava passarinho
de penca,perdoava nem curuira,
bicho nanico,tem de
se bão
certa curuira é qui
nem certa no zoio do boi.
I pro rio pula de
cipó na’qua, merguiá
pesca,faze as
sem-vergonhice.
Sabe lambari? pexe
prata e azur,
piqueno ma bastante
no Iguaçu tem de monte,
pega facir,de
barde, se joga quirela.
Ma io o bão é faze
lambari arecém pescado,
numa fritada,mais
radite e polenta,é de lambe os beiço.
O probrema do
lambari é queda brigaida de casar.
Causa de Lambari
oiei os tempo muda.
Pra’onte inda, home
pescava e muié limpava,
hoje’dia, mudo,
home não manda mais,
por causa das
novela da Grobo,sabe?
Muierada ficam
bizoiando as tar de novelas,
daí prende das
modernidades,já que trabaia fora.
A minha qué por qué
se zeladora da iscola Castro Arves.
Hoje’dia o home tem
que pesca e garra de tira buchada
ainda frita, se
muié toca de limpar, oia da desquite.
E torresmo, eitá
torresmo, de porco sorto,
criado na lavage,
de encraxa os bigode.
Torresmo se escoie,
garimpa o mais meio.
Têm muito só graxa
e coro duro
de quebra dente do
fundo, poco de carne,
negocio é cata que
rareia.
Bão é co a
companheirada de bodega, cum pinga,
na torresmada tudo
é iguar , não tem rico,
cada que se ajeite
pra acha pedaço que preste.
Passa pra todu o
mundo,
garra um, ponha no
sar co vinagre e pra dentro.
Torresmo da
problema de congistã,
mas não é como
outra, que quando torce as tripa,
se pega nojo,
torresmo despois de meiorá,
já da vontade de
novo, torresmo é assim.
Na bodega vorta e
meia parece arguém co torresmo,
pra deixa os amigo
contente.
Vô pra bodega di as
veiz, joga um pontinho,truco
se esconde das
tormenta.
Que dia de chuva
não da pra carpi,
e dia de sor é de
mais de quente,
de esquenta a
moringa.
Lá dá pra pedi um
galeto,ovo na salmora, paster
pra come cum
gasosa.
Só não me vai pinga
com mistura,
O pessoar tem mania
de estraga pinga
cum gaio,cum
quizaza,
ponha mestruis,
preteia com jaboticaba,
marga com milome,
doça com butiá.
Me petece cachaça
da pura, de lambique
dose da boa,desse
ranhando,de enguli gato de ré.
Só tomo uma cum aio
só guando me taca gripe,
o cum losna pro
estomego.
Oia bodega não é só
pra home,home fica,
bebe, joga
sinuca,baraio,faiz gritacera de truco
fica ma moita no
treis sete.
Mais guri vai
compra doce e sai.
O Soile se cabava
no doce, não pinchava chicrete fora,
grudava o baita
debaxo da mesa,punhava na geladera
notro’dia pegava de
vorta, pra masca de novo.
Bodega se iscuita
caso.
Meu cumpadre conto
que pesco onça.
O home tinha pego
baita pexe,
não é de vê qui a
pintada se taco na carpa-capim
e o anzor fico
prendido na boca dela, bandonei.
Mataram o coitado
do meu cumpadre.
Se meteu numa
tramóia,
fizero espera na
piramberra, perto do córrego.
O capanga sabia o
carrero da paca,atiro.
Foi qui nem mata
cateto do girau.
Triste vê, cheio de
bala, uma bem no zoio.
Era bão, alembro
bastante dele.
Dia ele ia bebe uma
pinquinha,dozinha,
falei pra mangá
-Não joga poco pro
santo?
num talagazo
entorto tudo e prozeo
- Não vô não, joga
você que é infier,
meu Santo mora qui
dentro do meu peito.
Eee sardade, vorti
i meia penso nele,
nois ia pesca,fumo
caça,nos bailedo,
se cabava no chote,
cum ele não tinha tristeza.
Se carniava
porco,me dava um pedaço,do meió,
mais umas vorta de
lingüiça, se coiá borora trazia,
Mandioca intão, de
braçada, e quejo, mio verde,
inte galinha limpa,
cos miúdo tudo rumadinho no vazio.
Foi coitado, dá nó
no peito, paifioeispiritosantoamem.
Vá cum Deus
cumpadre,dia nois imo se vê.
Eu não costumei na
cidade, vortei pros canhadão.
Gente vai pra
cidade, só pra trupica,
chupa picolé,perde
lotação.
Se crio no mato, no
mato tem de mora,
cuida da criação,
pincha mio pras galinha,
da gosto, vem tudo
em vorta.
Cria porco na
lavage, tira leite da brasina
e das veiz
desenferruja a quarentinha
nos cambuta, nas
paca, nas pomba-carijó
Pega quabirova e
ovaia no potrero,
sopra as bosta da vaca
é manda pro bucho,
Sai e vorta cós
borso cheio de butiá,vida boa.
Inte mais.
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