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quinta-feira, 19 de novembro de 2015

O ROSTO DE MUITAS MÁSCARAS DE RICARDO PORTUGAL

O ROSTO DE MUITAS MÁSCARAS DE RICARDO PORTUGAL

um bom livro de poesia não acontece todo dia
raramente ele pipoca
no mundo underground dos poetas
que vivem como sóis anões
que alimentassem o interior da terra

neste mundo pós-catástrofe de ficção cientificíssima
surge um rosto de muitas faces
a traduzir-se em poemas
Ricardo Portugal este já surgido aos poucos
e há bastante tempo
que cada vez mais insurgido se mostra em seu
“A face de muitos rostos” onde
virulenta cara dada a tapa
ataca a todos os donos do discurso oficial
os muitos 3 poderes da fala
e até aos poetas infiltrados em tais
populações de megafones

por vezes de fato sua poesia atenta a todas os ditames básicos
de Ezra Pound
usa de máscaras não muito duras para proteger o rosto
da chuva de cusparadas que ela faria por merecer
se bem compreendida
se, pois afinal
a boa logopeia mesmo enformada
por um rol de regras extraído de tudo que tornou-se clássico
conforme o arrolado pelo mestre imagista/vorticista supracitado
tal logopeia é sempre difícil de retraduzir-se
por um leitor acostumado às facilidades da vida contemporânea
e “A face” de Ricardo é logopeia rebelde
como bem dirá no posfácio do livro
o poeta-crítico pugilista Ronald Augusto

num discurso uno que não nos deixa dúvida de que a face de um ser único
parte de um todo que só é pleno nas muitas máscaras
portanto não existe senão como ficção
(e aqui nesta obra poderiam embasar-se os defensores de que a poesia é ficção
embora existam muitas obras que demonstrem o contrário)
num discurso uno    eu vinha  demonstrando
uma linguagem esquizofrênica se apresenta     uma mescla
do kitsch em fragmentos de dizeres popularescos de natural distorção fonética da língua oral
com os preciosismos linguísticos que levam Ronald Augusto a lembrar-se do
sempre lembrado nestes casos
Odorico Mendes

é a velha salada tropicalista que mistura o kitsch a vanguarda (tradição da ruptura) e a tradição (que sugere Pound cada um tenha a sua)
de que somos filhos os poetas brasileiros da nossa geração

mas se logopeia     ainda a poesia poundiana de Portugal
não prescinde nunca da regra primeira do mestre
“Atente para o som”

os ritmos da fala embora às vezes envoltos por métrica aparecem
e como no irônico “Visita ao museu”
algo entre cummings, Pound e o ar bufão de Oswald de Andrade
a fala oral comparece sólida mascarada num popular talvez guerrilheiro
entrecortando-se ao dizer
o que é a verdadeira sintaxe da língua falada
um pouco de Guimarães Rosa e Manoel de Barros

enfim há um pouco de tudo que é bom numa poesia onde até Lupicínio Rodrigues é citado desrreconstruído num nível que o músico da dor de cotovelo jamais poderia supor

mostrando que o autor Ricardo vive numa trincheira entre dois mundos
o do rio de sua aldeia e o Tejo
a jovem e já esfacelante Porto Alegre e principalmente a sólida civilização milenar chinesa
sua poesia relembra quase nostálgica uma cidade que já não é a sua
e desenha belas imagens à moda oriental inclusive olfativas
que ficam na memória do leitor
e que dão a Ricardo Portugal a medalha de
poundiano à milionésima de nossa aldeia-mor do sul do Brasil



19 11 2015

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