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segunda-feira, 4 de abril de 2016

Um famoso poema de Mao Tsé-Tung, traduzido ao português por Ricardo Portugal. De quebra, um poema de Adrian'dos Delima sobre a liberalização da China.

Um famoso e belíssimo poema de Mao Tsé-Tung (毛泽东) , Changsha, traduzido ao português por Ricardo Portugal, em uma tradução que somente um grande poeta conseguiria realizar.. 
De quebra, um poema de Adrian'dos Delima sobre a liberalização da China.


Mao Tsé-Tung/ Mao Zedong/ 毛泽东

长沙1925年)

独立寒秋,
湘江北去,
橘子洲头。
看万山红遍,
层林尽染;
漫江碧透,
百舸争流。
鹰击长空,
鱼翔浅底,
类霜天竞自由。
怅寥廓,
问苍茫大地,
谁主沉浮?
携来百侣曾游,
忆往昔,
峥嵘岁月稠。
恰同学少年,
风华正茂;
书生意气,
挥斥方遒。
指点江山,
扬文字,
粪土当年万户侯。
记否,
到中流击水,
浪遏飞舟?



Changsha

solitário de pé encaro o outono
ao frio, desde a Ilha das Laranjas
vejo o Rio Xiang fluir ao norte     
milhares de montanhas avermelham-se
por bosques tingidos em rubros andares
e sobre as verdes águas várias transparentes
cem barcos competem em esforço
águias batem-se ao vazio infinito
peixes enxameiam pelas tênues águas
miríades de seres rivalizam livres
contra um céu glacial, tomados de imensidade
e ora indago à terra magna infindável
que mestre é este a reger quem imerge
ou vem à tona        pois outrora aqui estive
e os companheiros de meses anos
replenos, coração de estudante
aqueles tantos jovens a intensa flor
da idade        irrestritos em desafio
apontávamos montanhas vastos rios
arrebatados brados nossas obras davam      
senhores do mundo por monturos de estrume
como não lembrar:
em meio à torrente estapeávamos as ondas
a levantá-las contra os barcos, e avançávamos


Tradução Ricardo Portugal



Ricardo Primo Portugal, o tradutor

É poeta, tradutor de poesia e diplomata, graduado em Letras pela UFRGS. Publicou, entre outros: DePassagens (Ameop, 2004), Arte do risco (SMCPA, 1992). Foi co-organizador da edição bilíngue chinês-português Antologia poética de Mário Quintana (EDIPUCRS, 2007), primeiro livro de poeta brasileiro traduzido para o chinês, com o apoio do Consulado Geral do Brasil em Xangai. Lançou a, possivelmente, mais abrangente antologia já publicada na língua portuguesa de poesia da Dinastia Tang (Antologia da poesia clássica chinesa), a “idade de ouro” da literatura chinesa clássica, reunindo mais de 200 poemas de mais de 30 autores, traduzidos na íntegra do chinês, juntamente com Tan Xiao, intérprete de chinês, português e inglês, sua esposa. O último livro de poemas de Ricardo Portugal é A face de muitos rostos, publicado em 2015.




                                                                                   










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Poema de Adrian’dos Delima de 1989 sobre a liberalização econômica da China


“I” de Rimbaud (Na China, depois da Coca-cola)


Paz
Celestial
Paz dos mandarinhões caídos do céu
De vermelho tingido o azul da tua praça
És a abóbada celeste imersa em sangue
Cais muito mais ao gosto dos nossos deuses humanos
Ocidentais
Do que caíam cabeças que caíram dos corpos
E rolaram com um tiro na nuca
Um grito na goela
Para os braços do povo chinês
Com os olhos vítreos tão fechados e abertos
Como se a chacina vista fosse
O próprio espírito xamã de Artaud
Reencarnação num teatro Oriental da Crueldade
(Gemidos
Glossolalias de raízes gregas e tão
Universais depois de unidas por elos ao extremo
Oriente do Oriente)

Terra dos mandarins
Das dinastias
Das covardias de elites por trás de Grandes Muralhas
Da Revolução Caducada
Voltada contra a própria origem
Cairás por fim no erro outro o mais comum
E então
Estaremos com a boca nas orelhas
Babando ante teu quinto de gente do mundo
Nós
Temos marco e mais marco e mais marco polo
Pra buscar através do Continente Amarelo tua seda
Tua porcelana e havemos
De mostrar voracidade
Na tua comuna de alfaces gigantes
Prodígios do fértil fertilizante humano
Tua urina de Mao de Marx e Engels
"Vermelha e estéril"



Uma visão de um teen, 1989.


Adrian'dos Delima


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