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quarta-feira, 4 de abril de 2012

Mais dois poemas do catalão Joan Salvat-Papasseit traduzidos ao português. Tradução Adrian'dos Delima.


Poema de Óssa Menor/ Ursa Menor (1925, póstumo) - Omega +
Poema de Poema de La Rosa als lavis/ O Poema da rosa nos lábios(1923)- deixaré la ciutat que em distreu de l'amor




ΩPoema de Óssa Menor - OmegaΩ


                                     OMEGA

l'hora floreix
rosa
      vermella
                  roja i escarlata

—jo sé la noia que es deleix
i l'hora que passa
dansa que dansa— 
el meu rellotge té un panteix
sageta d'or i plom a la vegada

l'hora floreix
i és el meu cor com l'esponja espremuda 
—ara una esponja que raja d'escreix—
algú emborratxa
                         amagat
                                    les agulles

cada minut cau com l'aigua de neu
llà on és l'amiga

—i a prop meu cau com l'espuma
ferida.

(de Óssa menor)

#######################

ÔMEGA 

a hora floresce
rosa
        vermelha
                      rubra e escarlate

eu sei da moça que se deleita
e da hora que passa
dança que dança—
o meu relógio tem um arquejo
de uma vez só seta de ouro e chumbo

a hora floresce
e é o meu coração como a esponja espremida

—agora uma esponja que esguicha o excesso— 
alguém embaraça
                            em oculto
                                             os ponteiros

cada minuto cai como a água da neve
lá onde está a amiga

—e junto a mim cai qual espuma
ferida.      


                                                 

(de Ursa menor)



Nota: Transcrevo o texto em catalão de acordo com o manuscrito do autor e, na tradução, optei por usar a disposição tipográfica que aparece no mesmo, não a disposição que aparece na publicação póstuma de "Ursa Menor", em 1925. 






 ***

 deixaré la ciutat que em distreu de l'amor,
 la meva barca
                             el Port
 i el voltàmetre encès que porto a la butxaca-

 l'autòmnibus brunzent
 i el més bonic ocell
                                           que és l'avió
i temptaré la noia que ara arriba i ja em priva

 li diré com la copa melangiosa és del vi
-i el meu braç del seu coll-
i veurà que ara llenço la stylo i no la cullo

 i em faré el rostre pàl·lid com si fos un minyó
 i diré              maliciós:
-com un pinyó és la boca que em captiva.



(de El poema de La rosa als lavis)


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 deixarei a cidade que me distrai do amor,
 a minha barca
                           o Porto
 e o voltâmetro aceso que porto no bolso -


 o ônibus zunidor
 e a mais bonita ave
                                           que é o avião
 e tentarei a moça que agora chega e já me faz falta

 lhe direi o quanto a taça melancólica é do vinho
 -e o meu braço do seu colo-
 ela verá que ora deito a tinteiro e não a colho

 e farei o meu rosto pálido como se um menino fosse
 e direi            malicioso:   
 - como um pinhão é a boca que à minha cativa.


 (de El poema de La rosa als lavis)


Notas da mediação/tradução:

voltàmetre – voltâmetro,  coulômetro: aparelho para medir a quantidade de eletricidade (cf. Houaiss)...  en funció de la quantitat d’un element químic alliberat electroquímicament en un elèctrode *. ( Institut d'Estudis Catalans) --- elèctrode (= português eletrólise)

stylo – estilógrafo; caneta-tinteiro.


                                Tradução Aftian'dos Delima

                            Adrian'ofthe Oflima, the translator


Adrian'delos Delima, el traductor 







3 comentários:

  1. Adriano, como todo bom poeta, quanto mais leio Joan Salvat-Passeit, mas me impressiono. Esse poema Ômega é de uma beleza tocante. O trecho, do segundo poema "e a mais bonita ave que é o avião" me deixou com um sorriso nos lábios. Em meu primeiro livro, de 2005, escrevi algo semelhante, olha só: "Na cidade noturna, os homens esquecem que os bombardeiros e as balas perdidas são os únicos exemplares de aves que nos restou; que os navios e submarinos são os únicos peixes que nos sobraram." Que bacana!
    O poema todo está aqui, ó: http://rafaelnolli.blogspot.com.br/2009/03/memorias-beira-de-um-estopim.html

    Parabéns pela tradução! Agradeço por compartilhar! Abraços!

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    1. Grande!! Olhei e aconselho. Poema em prosa, forte, como é o trabalho do Rafael sempre. Mas é sempre legal observar que um grande poeta como Papasseit, sem que o saibamos, utilizou alguma imagem ou idéia, ou palavras, semelhantes às nossas. Estas coincidências não são meras coincidências, e sim resultado de um trabalho bem feito de Rafael Nolli.

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  2. O segundo poema faz parte de um livro considerado, normalmente, "na Espanha" o melhor livro com temática amorosa da língua catalã. "El poema de La Rosa als lavis", conforme algumas fontes, é leitura obrigatória nas escolas de "ensino médio" da Catalunha. A obra vai de caligramas a poemetos feitos de quadrinhas metrificadas. Quanto ao avião, bom, o deslumbramento futurista com a máquina estava aí. Creio em aves mais belas que os aviões, mesmo quando estes não carregam bombas. Tal deslumbramento, no entanto, não compromete o poema e, pelo contrário, nos faz lembrar de quão belo foi o secular sonho do homem poder voar, poder ver o mundo lá do alto, em movimento, etc.

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