10 poemas de despedida da Dinastia Tang, traduzidos por Ricardo
Portugal & Tan Xiaoo
Traduções inéditaso
Poesia Chinesa – 10 Poemas De Despedida
A Dinastia Tang (618-915) é considerada o auge da cultura clássica chinesa. Foram aproximadamente 300 anos de uma sociedade caracterizada por uma
vida urbana intelectual e esteticamente sofisticada. A produção poética do
período surpreende
pela quantidade e qualidade. A popular antologia Poemas completos da Dinastia
Tang, compilada posteriormente, no século XVII (Dinastia Qing), por
ordem imperial, contém aproximadamente 50 mil poemas, escritos por 2.200
autores, dentre os quais estão 190
mulheres – uma importante tradição feminina sempre existiu na poesia chinesa.Dentre os nomes mais notáveis desse
período de ouro da literatura universal, citam-se sempre Li Bai (Li Po), o
grande mestre taoísta da poesia chinesa, e Wang Wei, um dos artistas mais
completos de seu tempo – poeta e pintor de renome, mestre budista chan (zen). Da tradição feminina, estão
entre os nomes de maior destaque Li Ye e Yu Xuanji. Os textos a seguir, desses
autores, são exemplos de um tipo bastante praticado nesse período, em que as
longas viagens por enormes distâncias poderiam separar amigos e amantes para
sempre: poemas de despedida.As traduções de Li Ye, Li Bai e Wang Wei
a seguir estão entre as que integrarão antologia de poesia da Dinastia Tang que
estamos preparando. Os poemas de Yu Xuanji já foram publicados em 2011, pela
UNESP, na edição bilingue Poesia Completa de Yu Xuanji – traduções, prefácio e
notas realizados por nós.Bom proveito, e feliz ano do dragão.
Ricardo Portugal & Tan Xiao
L I Y E
ADEUS EM UMA NOITE DE LUA
Separar em silêncio, e a lua esplende
sem rumor nem fala. O sentimento
irradia o adeus que falta, e à lua
cintilam
nuvens, águas e cidades
明月夜留别
离人无语月无声
明月有光人有情
别后相思人似月
云间水上到层城
WANG WEI
Canção da
cidade de Wei
manhã em Wei a chuva cai leve a poeira
no albergue ao pátio o verde novo nos salgueiros
então, Senhor, bebe outro copo deste vinho
a oeste, além do Passo Yang, não tens amigos
渭城曲
渭城朝雨浥轻尘
客舍青青柳色新
劝君更尽一杯酒
劝君更尽一杯酒
西出阳关无故人
Despedida
Aqui desmonta, bebe deste vinho.
Amigo, aonde leva teu caminho?
Ouço-te a fala em desconcerto ao mundo.
Buscas refúgio às colinas do sul.
Sem mais perguntas; vai, não te detenhas.
Derivam nuvens brancas para sempre.
送别
下马饮君酒
问君何所之
君言不得意
归卧南山陲
但去莫复问
白云无尽时
O Lago Yi
Soprando a flauta até a margem acompanho
o sol poente sigo meu senhor
Sobre o lago instante breve retorno
ao verde morro abraça a nuvem branca
欹湖
吹箫凌极浦
日暮送夫君
湖上一回首
山青卷白云
Desde o alto
terraço: à despedida de Li Shiyi
Desde o alto terraço despedir-se
rio planície perdendo-se no escuro
Pássaros voam voltam no crepúsculo
vai viajante apressa-se a partida
临高台送黎拾遗
相送临高台,
川原杳何极。
日暮飞鸟还,
行人去不息。
LI BAI
Despedida a um amigo
montanha verde a norte
na muralha
e um claro rio
contorna a vila a leste
eis o lugar enfim de
separar-se
mil milhas cobre a
orfã errante erva
nuvens viajam mudam
vagam ânimos
ao sol poente adeus
velhos amigos
agitam mãos distantes
outro instante
e só os cavalos ouvem-se em nitridos
送友人
青山横北郭
白水绕东城
此地一为别
孤蓬万里征
浮云游子意
落日故人情
挥手自兹去
萧萧班马鸣
Despedindo-se
de Meng Haoren que parte da Torre do Grou Amarelo
Deixa o velho amigo o oeste a Torre do Grou
flores pela névoa em
março descem a Yangzhou
Entra o azul imenso sombra mínima a vela
somente o
Grande Rio indo à borda do céu
送孟浩然之广陵
故人西辞黄鹤楼
烟花三月下扬州
孤帆远影碧空尽
唯见长江天际流
唯见长江天际流
YU XUANJI
Para Guo Xiang
Manhã à noite, beber e cantar
Esta saudade vem com a primavera
À chuva foi-se o mensageiro, a
carta
Junto à janela ficou sofrimento
Veem-se entre as contas da cortina
os montes
Dores recordam-se ao odor da grama
E àquela festa finda, à despedida,
quanta poeira desabou dos caibros
寄国香
旦夕醉吟身,
相思又此春。
雨中寄书使,
窗下断肠人。
山卷珠帘看,
愁随芳草新。
别来清宴上,
几度落梁尘。
Dizendo adeus (I)
Acreditava intermináveis as noites
neste quarto, entre delícias. Mas
viajas,
nuvens erram. Deito só e não
reajo,
fina-se a
lâmpada; em torno, a mariposa.
送别
(一)
秦楼几夜惬心期,
不料仙郎有别离。
睡觉莫言云去处,
残灯一盏野蛾飞。
Para Li Zi’an
O vinho não lavaria a dor, nem mil
cálices
desatariam os cem nós no peito à
partida
É primavera, orquídeas1 recobrem o
pátio
Salsos-chorões detêm o caminho dos
barcos
Ir ou ficar? Esvai-se uma nuvem
sem forma
Pudera amor imitar o rio, seu
fluir
Brotam as flores, assim é a
estação do encontro
Quem beberia sozinha à sala de
jade?
寄子安
醉别千卮不浣愁,
离肠百结解无由。
蕙兰销歇归春圃,
杨柳东西绊客舟。
聚散已悲云不定,
恩情须学水长流。
有花时节知难遇,
未肯厌厌醉玉楼。
Ricardo
Primo Portugal é escritor e
diplomata, graduado em Letras pela UFRGS. Está completando sete anos vivendo e
trabalhando na China, primeiro em Pequim, depois em Xangai e, a partir de 2010,
em Cantão (Guangzhou). Publicou: DePassagens (Ameop, 2004), Arte do
risco (SMCPA, 1992), entre outros. Foi co-organizador da ediçãospan style= bilíngue
chinês-português Antologia poética de Mário Quintana (EDIPUCRS, 2007),
primeiro livro de poeta brasileiro traduzido para o chinês, com o apoio do
Consulado Geral do Brasil em Xangai. Em junho de 2011, saiu, pela UNESP, Poesia
completa de Yu Xuanji, edição bilíngüe da obra da poetisa clássica chinesa
(Dinastia Tang), com traduções suas, em parceria com a esposa, Tan Xiao,
primeira obra completa de poeta daquele país editada no Brasil, traduzida
diretamente do original chinês. (ver: http://www.editoraunesp.com.br/catalogo-detalhe.asp?ctl_id=1267). No final de 2011
publica, pela editora 7 Letras, [Zero a
Sem], haicais (ver: https://www.7letras.com.br/zero-a-sem.html).
Tan
Xiao é graduada em Letras, com
ênfase em língua inglesa e ensino das línguas inglesa e chinesa pela
Universidade Zhong Nan, Changsha, Hunan, República Popular da China. Estudou
português na UnB. Foi intérprete e tradutora português-chinês da Embaixada do
Brasil em Pequim e trabalhou no escritório brasiliense da empresa Huawei.
Atualmente, faz o mestrado em lingüística na Universidade de Línguas
Estrangeiras de Guangdong (“Guang Wai”, 广外).
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