Lua desvenda lugar secreto |
Dos 'Poemas de amor de Marichiko'
Love poems of Marichiko
Kenneth Rexroth
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I.
Eu sento em minha escrivaninha.
O que posso te escrever?
Doente com o amor,
Estou ansiada por te ver de
frente.
Eu consigo escrever somente,
“Te amo. Te amo. Te amo.”
O amor corta fundo o meu coração
E rasga minhas vísceras.
As contrações do desejo me
sufocam
E parecem não querer parar.
II.
Se eu penso que poderia ir-me
E chegar aonde estás,
Dez mil milhas poderiam ser como
uma só.
Mas estamos ambos na mesma cidade
E não ouso te ver,
E a milha é mais longa que o
milhão de milhas.
IV.
Queres saber no que eu pensava
Antes de sermos um um par.
A resposta é simples.
Antes de nos reunirmos
Eu não tinha alguma coisa em que
pensar.
VII.
Amar com você
É como beber água do mar.
Mais bebo
Mais fico sedenta,
Até nenhuma água saciar minha
sede,
Somente beber o mar inteiro.
X.
A geada cobre os juncos do
banhado.
Uma névoa leve sopra entre eles,
Estalando as folhas compridas.
Meu coração preenchido pulsa com
beatitude.
XII.
Vem pra mim, como sempre
Quietamente ao leito rosa do
carvão
Na minha lareira
Que incandesce além do biombo na
noite da floresta.
XIII.
Jazendo na grama, campo aberto
para ti
Sob a luz do meio-dia,
Uma névoa escura cobre em parte
Minhas pétalas de rosa.
XV.
Porque eu sonho
Contigo a cada noite,
Meus dias sós
São só de sonho
XVI.
Calcinada pelo amor, a cigarra
Grita em surto. Em silêncio como
o vaga-lume,
Minha carne toda incendeia do
amor.
XXVIII.
A primavera este ano é mais cedo.
Loureiros, pés de pêssego,
ameixa,
Amêndoa, mimosa,
Tudo floresce de súbito. Sob a
Lua, a noite cheira como o teu
corpo.
XXXI.
Algum dia em seis polegadas de
Cinzas vai estar tudo
Que sobrou de nossas mentes
passionais,
De todo o mundo criado
Pelo nosso amor, sua origem
E passagem daqui.
XXXIII.
Eu não consigo esquecer
O anoitecer perfumado dentro da
Minha tenda de pêlos pretos,
Quando nós acordamos para fazer
amor
Depois de uma longa noite de
amor.
XXXIV.
A cada manhã, eu
Acordo só, sonhando que meu
Braço é tua doce polpa
Pressionando os meus lábios.
XXXVIII.
Eu esperei toda a noite.
Pela meia-noite eu pegava fogo.
Ao amanhecer, esperando
Achar um sonho teu,
Eu pousei a cabeça exausta
Nos braços em cruz,
Mas as canções de despertar
Dos pássaros me atormentaram.
XLIII.
Duas flores em uma carta.
A lua mergulha na distância entre
as montanhas.
O orvalho ensopa as folhas dos
bambus.
Eu espero.
Grilos cantam toda a noite no
pinheiro.
À meia-noite soa o sino do
templo.
Gansos selvagens gritam acima das
cabeças.
Isso apenas.
XLIV.
O desalinho do meu cabelo
É feito pelo meu insone
travesseiro sozinho.
Meus olhos ensombrados e as covas
das faces
São tuas
falhas.
XLV.
Quando no teatro Noh
Nós assistimos Shizuka Gozen
Aprisionado pela neve,
Apreciei a trajédia,
Por eu pensar:
Nada parecido com isto
Jamais vai se passar comigo.
LV.
A noite é demasiado longa para a
insônia.
A estrada é demasiado longa para
o que tem os pés feridos.
A vida é demasiado longa para uma
mulher
Transformada em louca pela
paixão.
Por que eu acho sinais enganosos
No retorcido caminho do amor?
LVI.
Esta carne que costumas amar
É frágil, oscila por natureza
Como nau sem norte.
Os fogos da pesca com aves
Tremem na noite.
Meu coração pisca com esta
agonia.
Entendes?
Minha vida se extingue.
Entendes?
Minha vida.
Desvanecendo como as estacas
Que seguram as redes contra a
corrente
No Rio Uji.
LVII.
Noite sem fim. Solidão.
O vento traz uma folha de bordo
Contra a porta de papel
translúcido.
Eu espero, como nos velhos dias,
No nosso lugar secreto, sob a lua
cheia.
Os últimos grilos-de-sininhos
cantam.
Eu achei tuas antigas cartas de
amor,
Repletas de poemas que nunca
tornaste públicos.
E importaria a alguém?
Eles foram somente para mim.
LVIII.
No meio de um sonho
Eu me torno consciente
De que as vozes dos grilos
Brotam debilmente no outono que
envelhece.
Estou de luto por este solitário
Ano que está passando.
E minha própria natureza
Brota débil e esmorece ao longe.
LX.
Gelada dos pés á cabeça, eu
levanto
Com a primeira luz. Do outro lado
da minha janela
Uma folha de bordo vermelha plana
silenciosa para o chão.
Em que eu começo a acreditar?
Indiferença?
Malícia?
Eu detesto a vista do dia que
chega
Desde a manhã em que
Teu olhar inerte passou para mim
o seu gelo
Como a pálida lua no amanhecer.
Kenneth Rexroth
Tradução Adrian'dos Delima
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The
Love Poems of Marichiko
I
I sit at
my desk.
What can
I write to you?
Sick with
love,
I long to
see you in the flesh.
I can
write only,
“I love
you. I love you. I love you.”
Love cuts
through my heart
And tears
my vitals.
Spasms of
longing suffocate me
And will
not stop.
II
If I thought I could get away
And come to you,
Ten thousand miles would be like one mile.
But we are both in the same city
And I dare not see you,
And a mile is longer than a million miles.
And come to you,
Ten thousand miles would be like one mile.
But we are both in the same city
And I dare not see you,
And a mile is longer than a million miles.
IV
You ask me what I thought about
Before we were lovers.
The answer is easy.
Before I met you
I didn't have anything to think about.
Before we were lovers.
The answer is easy.
Before I met you
I didn't have anything to think about.
VII
Making
love with you
Is like
drinking sea water.
The more
I drink
The
thirstier I become,
Until
nothing can slake my thirst
But to
drink the entire sea.
X
Frost
covers the reeds of the marsh.
A fine
haze blows through them,
Crackling
the long leaves.
My full
heart throbs with bliss.
XII
Come to me, as you come
Softly to the rose bed of coals
Of my fireplace
Glowing through the night-bound forest.
XIII
Lying in the meadow, open to you
Under the noon sun
Hazy smoke half hides
My rose petals.
XV
Because I
dream
Of you
every night,
My lonely
days
Are only dreams.
XVI
Scorched with love, the cicada
Cries out. Silent as the firefly,
My flesh is consumed with love.
Cries out. Silent as the firefly,
My flesh is consumed with love.
XXVIII
Spring is
early this year.
Laurel,
plums, peaches,
Almonds,
mimosa,
All bloom
at once. Under the
Moon,
night smells like your body.
XXXIII
I cannot
forget
The
perfumed dusk inside the
Tent of
my black hair
As we
awoke to make love
After a
long night of love.
XXXIV
Every
morning, I
Wake
alone, dreaming my
Arm is
your sweet flesh
Pressing
my lips.
XXXI
Some day in six inches
of
Ashes will be all
That's left of our passionate minds,
Of all the world created
By our love, its origin
And passing away.
XXXIV
Every
morning, I
Wake
alone, dreaming my
Arm is
your sweet flesh
Pressing
my lips.
XXXVIII
I waited
all night.
By
midnight I was on fire.
In the
dawn, hoping
To find a
dream of you,
I laid my
weary head
On my
folded arms,
But the
songs of the waking
Birds
tormented me.
XXLV
The disorder of my hair
Is due to my lonely sleepless pillow.
My hollow eyes and gaunt cheeks
Are your fault.
The disorder of my hair
Is due to my lonely sleepless pillow.
My hollow eyes and gaunt cheeks
Are your fault.
XLIII
Two
flowers in a letter.
The moon sinks into the far off hills.
Dew drenches the bamboo grass.
I wait.
Crickets sing all night in the pine tree.
At midnight the temple bells ring.
Wild geese cry overhead.
Nothing else.
The moon sinks into the far off hills.
Dew drenches the bamboo grass.
I wait.
Crickets sing all night in the pine tree.
At midnight the temple bells ring.
Wild geese cry overhead.
Nothing else.
LV
The night is too long to the sleepless.
The road is too long to the footsore.
Life is too long to a woman
Made foolish by passion.
Why did I find a crooked guide
On the twisted paths of love?
XLV
When in the Noh theater
We watched Shizuka Gozen
Trapped in the snow,
I enjoyed the tragedy,
For I thought,
Nothing like this
Will ever happen to me.
LVII
Night without end. Loneliness.
The wind had driven a maple leaf
Against the shoji. I wait, as in the old days,
In our secret place, under the full moon.
The last bell crickets sing.
I found your old love letters,
Full of poems you never published.
Did it matter? They were only for me.
LVIII
Half in a
dream
I become
aware
That the
voices of the crickets
Grow
faint with the growing Autumn
I mourn
for this lonely
Year that
is passing
And my
own being
Grows
fainter and fades away.
LX
Chilled
through, I wake up
A red
maple leaf floats silently down.
What am I
to believe?
Indifference?
Malice?
I hate
the sight of coming day
Since
that morning when
Your
insensitive gaze turned me to ice
Like the
pale moon in the dawn.
Keneth Rexroth
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Notas:
* O livro
No
livro de 1978, escrito em duas versões, em japonês e em inglês, Rexroth
apresenta
Marichiko assim "Marichiko is the pen name of a contemporary
young woman who lives near
the temple of Marishi-ben in Kyoto." Ela é,
no entanto, um personagem criado pelo poeta
estadunidense, que redigiu
a versão dos poemas em duas línguas, inglês e japonês.
*Poema LVI
"pesca com cormorões" traduzido por "pesca com aves": Corvo-marinho, biguá (Brasil),
calilanga, galheta, induro ou cormorão designação vernácula (do inglês cormorant), é a designação de diversas aves marinhas Pelecaniformes da família Phalacrocoracidae. O grupo tem cerca de 30 espécies, pertencentes ao género Phalacrocorax." "No Japão e China, é tradicional o uso de corvos-marinhos na pesca artesanal, de uma forma análoga à caça com falcões desenvolvida na Europa da Idade Média."(Wikipédia).
O kanji para esta ave ou para o tipo mais comum deste grupo de aves no Japão é 鵜.
O kanji para esta ave ou para o tipo mais comum deste grupo de aves no Japão é 鵜.
*Poema LVII
Shoji, traduzido por "porta de papel translúcido": porta corrediça ou biombo,
normalmente, ou tradicionalmente, feita de papel de arroz, portanto, transparente.
A palavra também significa corrigir ou brilhante.
Bordo é a Acer palmatum (ou Bordo japonês), uma espécia de bordo, ávore nativa ao Japão,
Coréia do Sul e à China. "A coloração das suas folhas sofre alterações bastante intensas ao
longo das estações do ano, variando desde verde vivo, passando por amarelo e chegando a vermelho intenso antes da queda da folha no outono."(Wikipédia)
Coréia do Sul e à China. "A coloração das suas folhas sofre alterações bastante intensas ao
longo das estações do ano, variando desde verde vivo, passando por amarelo e chegando a vermelho intenso antes da queda da folha no outono."(Wikipédia)
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