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sábado, 21 de abril de 2012

antologia de pequenos trastes velhos e deboxis, ex-poesia de Adrian'dos Delima


 
antologia de pequenos trastes velhos






 VESTÍGIOS DO MEU PORTUGUÊS
Sótãomontagem, Adrian'dos.


 Traços de lua
 Rua triste
 E atrás de mim
 Às traças
 Meus traços de lesma
 Maltraços de linhas

 O galo começa
 Lá mesmo
 Um canto de agouro
 Onde no céu
 Se traçam
 D’ouros
 Vind’ouros nas frestas
 Da janela persa
 (De  Veneza ?)
 (Da Tailândia?)
 (Desta.)


PEQUENO POEMA SEM CONTA



O dois é um bom número
Mas mente o bom matemático que diz
       Pois na física somos dois
       Mas dois não é da física
Dois é da matemática e na boa matemática
De quem já sabe contar nos dedos
        Somos um
Não na física e nem na matemática
Pois aprendi que no amor como na vida
        Já não existe
        Ciência exata



COISAS, COISAS

                  
coisas, COISAS que eu quero dizer e digo pra trás
Eu quero dizer coisas
que eu quero dizer e deixo pra trás, digo, fico
Eu quero dizer
São essas coisas que eu
não digo
quer dizer
ficam



         flâmula

       Hoje me sinto triunfante
   E vivo
o cigarro no escuro
E vem
dia e vem sol
e eu cada vez mais
              vivo
queimo de paixão
                        pela brisa
       digo olá




POEMA COM CAUSA E EFEITO


Por causa do teu reflexo
Que estudavas no vidro embaçado
Ficou no banco do trem
Meu guarda-chuva com cabo de madeira.




POEMA QUE EU NÃO ACHO 


(1) Não acho nada
      Ninguém acha nada
      Quando acho perco

(2) Não posso achar
      Nada que não tenha
      Sido achado ainda (antes)

(3) Não posso achar
      Nada que ainda
      Não seja achado

(4) Não posso achar
      Nada que não seja
      Perdido ainda

(5) Não posso achar nada
      Que não tenha sido

(6) E nem nada que
      Não tenha sido perdido


...
Soluções: 123456 - 12365 - 1246 - 12465 - ...........................................................................................................



CALENDA


Dos
Números grandes da folhinha
Ficou a parede rosa
A mulher alisando as crinas


autoretrato


a amargura ama
e vive atirada sobre uma cadeira velha
esperando a própria morte
e desejando a morte alheia
enquanto não sente nos lábios
o toque dos lábios
que ela tanto anseia





                       ANDANTE AO SR. DIRETOR


 nenhum extravio tira
do caminho quem

ainda no automatismo guia
                                       espalhando flores

 no retrovisor
                                                                         com sorrisos



     COLHENDO AMORAS


O que quero provar (primeiro)
São os teus dedos vermelhos.





NESTA NOITE


Nenhum sentimento em especial

Um coral de sapos porenche a chuva
Espessa e com parco reflexo

Até que aqui pra dentro transborda
O coração cheio




PÁGINA VAZIA


As flores botam suas hélices no ar
Vão embora
Neste jardim
Há os que vi abatidos como moscas
E eram borboletas




TURBILHÃO


O ventilador olhou dois lados
Eu dormi
Ele virou pro outro
E enterrou bem fundo
As hélices pela janela
Numa nuvem de chuva





NA ÁREA COBERTA DOS FUNDOS

A lâmpada
de mercúrio
quando apago
custa a perder
sua cor vermelha

Igual à pera
que dá nos postes
da avenida
é a lâmpada
desta viga

E tuas bochechas
que eu julgo maduras
em paixão
pra cobrir de mordidas
frutívoras, também são.




DENQUANDO VOU PELO DESCHOVIDO

Um asfalto que se mexe
     Parece vivo
Em minhas botas
Choveu cacos de vidro 

De um poste a um limoeiro
Contra a luz fraca
Do presente

Penso
Que meus cabelos prateiam
Na soma dos instantes
Com este











CONCORRRENTE
Alguém está pintando
Por dentro o Boquita`s
Vazio e é como
Os bares em volta
No dia de sol
Issem sorrindo
A vida na selva
E eu
E eu com isso



 
    DIZ-QUE-DIZ


diz que o sol se levanta
diz que o sol se põe
copérnico diz burrice
para o sol ele é sempre meio-dia




BEST FRIEND

deita rola fica parado finge de morto abana o rabinho
                                                     busca pauzinho

companhia dispensada





DUM DISCURSO DITO-SE HONESTO


Ri
Assumo
Isso
E os outros se olham pela sala de reunião

Enquanto me orgulho

                      
          


PAR

Caramujo preto
De latrina
Pública
Meu poema bate
Na próxima
Porta
Senta lendo e se en-
Rod’
Ilha





CAMONS

Se desse eu com engenho e arte
Tendo visto clarivisto
A toda gente em toda parte
Me enjambro ainda em longe mar bravio

Atrás da seda  cor do céu
Engendrava-na no navio
Essa gente do tear que adoça
O lume vivo o que se não viu




O VOTO DE SILÊNCIO


Diz-se um discurso contemporâneo

O verdadeiro nadador
é aquele que cruza os braços
diante da água.
A estrela mais bela
ainda está por ser descoberta.
O grito
que vale a pena ser ouvido é o do mudo.

Incorre em erro
aquele que diz o que acha que sabe
porque a verdade está escondida
e em constante movimento.

Se você diz estas coisas é que está por dentro

*


Todos estes poemas foram escritos entre 1988 e 1995.




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