Jacques Jesion, Mallarmé, 2010 |
Traduzir Mallarmé é sempre um risco. E parecendo este um soneto traduzido para mostrar que sei traduzir sonetos, é simplesmente Mallarmé.
Talvez, eu nem mesmo possa afirmar que sei traduzir sonetos. Lanço os dados, aqui.
Assim fiz. Na verdade, não privilegiei em minha tradução algumas regras clássicas dos antigos tratados de versificação. Traduzo Mallarmé.
Na versão desta peça escrita sem nenhuma pontuação e publicada em 1886, fujo da rigidez das rimas utilizadas ali pelo autor francês, faço uso de um conceito mais amplo e atual de rima. Se desta maneira traímos a obra em um marcante aspecto de sua forma, note-se que este não é o principal aspecto daquela. Faço uma tradução o mais literal possível. Busquei, assim, uma certa "hiperliteralidade". Significa que a forma, ali, tem como principal elemento o trabalho com a própria língua, o uso que o poeta faz da sintaxe e da analogia, produzindo significações inusitadas em uma espécie de enigma, mantendo a fórmula do "sugerir, eis o sonho". Pretendemos manter o que poderia haver de mais novo na informação estética veiculada pelo poema, bem como o que poderia conter de novidade formal na época em que foi escrito. Torno, é um fato, o poeta um pouco mais moderno do que realmente foi, neste poema. Mas Mallarmé, que certamente gostaria de ser lembrado pelo que trouxe de inovação, não pelo que conservava, tem a essência da sua invenção aqui preservada. Espero que os leitores de perfil mais pudico saibam compreender minha intenção e apreciar os meus resultados. Espero o acaso.
***
M' introduire dans ton histoire
C'est en héros effarouché
S'il a du talon nu touché
Quelque gazon de territoire
A des glaciers
attentatoire
Je ne sais le naïf péché
Que tu n'auras pas empêché
De rire très haut sa victoire
Dis si je ne suis pas joyeux
Tonnerre et rubis aux moyeux
De voir en l'air que ce feu troue
Avec des
royaumes épars
Comme mourir
pourpre la roue
Du seul
vespéral de mes chars
...
Me introduzir em tua história
Isto é um herói amedrontado
Se o calcanhar foi acertado
Numa grama do território
Às geleiras atentatório
Eu não sei o ingênuo pecado
Que tu não terias sustado
De gargalhar sua vitória
Me diz se não sigo faceiro
Trovoada e rubi ao eixo
De ver no ar que o fogo corta
Com estes reinos espalhados
Como morrer púrpura a roda
Da tardinha só dos meus carros
Tradução Adrian'dos Delima
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