Muita arte na rede Ello. Visualize:

Muita arte na rede Ello:

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O luxo do lixo merz dos Commerz Und Privatbank: a poesia do que resta e que se faz da reciclagem do lixo da linguagem verbal.






O luxo do lixo merz dos Commerz Und Privatbank: a poesia do que resta e  que se faz da reciclagem do lixo da linguagem verbal.             

                  DeCOmPOsiçÃO


Hare Krishna, Hare Krishna
Os teus olhos azuis cantando
                 me dizem
      pra eu ser feliz na minha, e eu
desiludido penso eu queria
      ser feliz na minha tua.
Eu já tive lindas, lindas flores, lindas
   nos meus vasos de (flores da) vida que murcharam
como as orelhas do burro cor-de-burro-
quando foge, foge de tudo. Eu-brusco busco não ser apagado da memória
                                            do mundo   com
uma borracha com cheirinho de morango - E rodo
rumba, mambo, baiana, - un tango, - quanto? ó
  mundo do dodó extinto, nós os dinossauros.
Eu-só
  não quero sumir assim não, mas sim
  ficar nos murais, nos muros, vitrôs coloridos em flor
que vão ficando pretos, e chumbo,
         de efeito numa estufa, nós num nazi-forno nozes.

Pobrezinho d`Eu que alimentei esperanças em mim e as dissolvo, como
aos poucos, e decomponho as palavras, vá,
   vá bene, parabolar palavras boas, pra lá bolas parábolas,
palávroras palárbolas palárboles palárvores ou palárvoras
   bene, palavras novas, já, de jaca, jaca Hare
             jaca H, vá já.

Eu não, vou ficar pra lá, pra sempre - tu passar, tu passa, passará na passeata
                                             bólido enve(ne)nado vida
Tu no vácuo
Tu vai lá - lá, lá - tu vai lá, ninhum lugá - oh, alea jacta est, señorita,
                                de Hare Krishna, Hare Jaca-se, KH.





                                     28/10/87 




















  

Um resultado triste da não publicação e/ou divulgação adequada da boa poesia, é o fato de que, poetas com afinidades estilísticas ou com alguns resultados semelhantes em suas pesquisas formais acabem não se conhecendo, nem podendo desenvolver pesquisas conjuntas. É o caso do que ocorreu entre mim e Ana Felícia Guedes Trindade: sem que um tivesse conhecimento do trabalho do outro, terminamos redigindo estes dois poemas com características muito semelhantes formalmente.
ESTES DOIS POEMAS, DIGO

 




Jean Lecomte du Nouy, L’Esclave blanche, 1888


































QUARENTA MARGARIDAS


 Amanheço mulher de quarenta primaveras e 
 quarenta invernos tambémde quarenta passarinhos e
 quarenta mil sóis nascepondo, qua de quatrocentos 
 amores e qua de quase tudo  alegria.
 
 Amanheço mulher de quarenta velinhas ede
 tantos e tantos e tantos bolos que comi agora
 fiquei doce.
 
Amanheço mulher de quarenta e quatro mil sonhos,
cheia de céus e nuvens brancas na cabeça e de 
leituras de mundo e de redes e de rugas e de águas
e toda florida e estampada qual frevo de carnaval.
 
Amanheço mulher de quarenta projetos divinos e
qua de quase toda arco-íris , qua de quase toda milharal ,
promessa de vida madura , qua de quase  laranja
alaranjada de umbigo e cheia de caldo doce de outono.
 
Amanheço mulher passageira de uma avenida
vida-ida-vinda-vida-ida-vinda-ida-vinda-advinda-vindaidaida-vida-vivida,
e fico ressuscivivida de tantas locomoções, lo-com-moções, lo-com-emoções.
Amanheço com quarenta rodas e quarenta trilhos e quarenta estradas.
Qua de quatro mil viagens e bagagens.Amanheço com  quarenta
veios d’água e qua de quase embarcação.Amanheço correnteza
levando flores de laranjeira .
 
 
Ana Felícia Guedes Trindade

O concurso “Poemas no ônibus” realizado pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre desde 1992 é uma tradição que já foi copiada pelo metrô da região da cidade e por outras cidades e estados. Os poemas vencedores, ou selecionados, são publicados em livro e expostos em veículos de transporte coletivo que circulam pela capital, alternadamente com poemas de alguns “famosos” da poesia. Os textos, naturalmente, têm limite de tamanho e de grau de complexidade. Têm predominado, desta forma, um certo leminskianismo, simploriedade, um fraco haicaismo e alguns ecos do último grande nome da poesia gaúcha, Mário Quintana. Eventualmente, algum poema se destaca por sua qualidade e inventividade. É o caso do poema acima, selecionado na 16ª edição do concurso, escrito por Ana Felicia Guedes Trindade.


Ana Felicia Guedes Trindade é professora da Rede Municipal de Porto Alegre e redondezas, trabalhando com Ensino fundamental/médio, e é Doutoranda em Educação, na Linha Pessoa e Educação – PUC-CAPES. Nunca publicou um livro de poemas.


MININOTACRÍTICA

* DO USO DO QUA:

(COM ELE A AUTORA PROMOVE)   “a regeneração das cargas de conteúdo (semântico) cujo princípio de estímulo é o próprio esqueleto fonético da língua, num intercâmbio eletrizante de sentido-som-grafia” tal afirmou H. de Campos sobre K. Scwitters em “A arte no horizonte do provável”.
Aliás, as semelhaças com a obra deste poeta não param por aí: no trecho “vida-ida.........lo-com-emoções” são usados “os vocábulos incrustados uns dentro dos outros, como Scwitters fazia, porém, não visando apenas à sua manipulação pré-racional, mas já a um complexo de sentido desdobrado em sucessivos outros, como fazia James Joyce”. (USO EM MINHAS OBSERVAÇÕES, ATÉ AQUI, SEMPRE O AUXÍLIO DAS PALAVRAS DE HAROLDO DE CAMPOS)
No trecho (ou estrofe, se preferirmos, embora este termo não me agrade) “Amanheço mulher...”, a poeta consegue usar o recurso do estranhamento de que se fala desde Baudelaire, porém alcançando um resultado cubista: o poema vinha em uma sequência que  “deveria”terminar na palavra “bolos”. Para a nossa surpresa, a estrutura prossegue (que comi...) e se transforma em outa, distinta daquilo que o texto fazia com que o leitor esperasse. O uso parco, ponderado, que é feito da pontuação também gera um excelente efeito cubista na relação entre vocábulos e “versos”(seria, p.ex., Amanheço mulher  ou Amanheço,  mulher de quarenta primaveras)
Às vezes, ainda, parece que o poema tende ao surrealismo: combinação de dois vocábulos que nunca apareceram juntos (p.ex., amanheço correnteza), palavras que deveriam ter outras posições em uma estrutura lógica convencional.
Tais características distinguem o poema do simplismo predominante em concursos deste tipo, na internet, nos jornajs, etc. Não me surpreende o fato de termos encontrado um poema que parece ser de uma grande ou, pelo menos, boa poeta, mas sim o fato de encontrarmos selecinado um texto de qualidade muito superior à média dos publicados neste tipo de concurso, que tem seus méritos, que leva a poesia à população trabalhadora, a qual realmente, se tomarmos um ônibus ou metrô em Porto Alegre, poderá ser vista lendo e comentando poesia.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente, por favor.