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quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Outros achados&perdidos&procurados: outras vozes e falas dispersas.


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Outros achados & perdidos &  procurados: outras vozes & falas dispersas





Aquilo que poderia ter se perdido.


Achados&Perdidos&Procurados

Achados&perdidos&procurados é um espaço para poemas inéditos & semi-inéditos (publicados apenas, ou primeiramente, em jornais, revistas, fanzines, internet) de poetas conhecidos pelo trabalho com poesia ou que não-sendo reconhecidos como poetas propriamente, atuando em outras áreas, escreveram também poesia. Mas, principamente, é um espaço dedicado a poetas marginais, protopoetas, poetas de botequim, de final-de-semana, poetas populares, naif, outsiders, etc. Percam-se nesta página: há algo para achar.
 


                           Adriano de los D'Lima


Aquilo que se perde ou com o que, às vezes, não se perde nada.

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Rongorongo da Ilha de Páscoa, escrita marginal e não decifrada.








ÍNDICIO PERMISSIVO
Percam-se neste índice: há algo para achar.

 ج      Janaína Bueno Bady

 M   Marcos Machado Nunes

 S     Richard Serraria

 x    Jéfferson Toupá

 H    Haroldo de Campos

 ?¿        Cabrera da Silva   

  Ѽ  ¿?¿??  Luciana Ferrari   (¿?¿??)...........  


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Poesia marginal no final dos anos 1990:zine fotocopiado feitos através de colagens. Os editores eram Adriano Lima (MAD), Alessandro Pedroso (Zóio) e Luiz Eduardo Pereira (Brinco). O grupo de poetas praticava intervenções na região metropolitana de Porto Alegre. A produção gráfica lembra-nos, hoje, o trabalho de Eugenio Dittborn, com a sua Geopoética.. 
 



O que é melhor para a poesia como arte: ser pop e disseminada em todos os campos ou ser marginal?

Alguém já disse que a boa poesia está à margem da margem. A cultura pop supõe uma relação horizontal entre o artista e seu fruidor, rompe-se a linha de fronteira entre a alta e a baixa cultura. Atendendo às demandas do seu público, o criador resgata ao cotidiano da cultura da metrópole os insumos da sua arte. Embora eu não defenda a poesia como uma seita catacúmbica, sociedade secreta, etc, essa visibilidade excessiva e frívola da mundanidade pop também não me agrada.


Ronald Augusto a João Pedro Wapler  
 

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JANAÍNA BUENO BADY





Esferográfica Ou Aliquam Tempus


Caneta na mão,
Põe-se o monge moderno
A compilar o livro.


***

 


Na passagem cármica
Pela Roda de Samsara
Um Nirvanamor.
  



***

haikus



O sol vem rezar
       Seu ofício matutino
        Entre as irmãzinhas.

***


PORTO DOS CASAIS



Baixa claridade.
O sol de inverno declina
voltando pra casa.

***  


O rio ruboriza.
A chaminé do gazômetro
desvanece em cinza.







***  


De dentro do ônibus
A chaminé do gazômetro
Andando pra trás.


***  


Fim de tarde rubro.
No rio de inverno o veleiro
Assopra o que penso.


***



Cortinas balançam
Na penumbra os fantasmas
Apenas o vento


***  


Lágrimas na face
Aceno de despedida
O trem partiu  






Castelo Interior Ou Moradas
(Andaremos Juntos Pelo Bosque Escuro)

“Com a ponta da bengala, traçarás palácios
em que viveremos felizes para sempre.”

Anna Akhmátova



Andaremos juntos pelo bosque escuro,
Nunca te deixarei.

Por ti moveria montanhas,
Se necessário fosse.

Construiremos nosso próprio mundo
e lá habitaremos com Cícero, Marina e Isadora.

Seremos felizes e todas as dores
do teu peito passarão,
Porque o amor estará conosco.

E quando tudo isso me será dado?
Perguntava-lhe.

Em breve, minha Amada,
Dizia-me.

Em breve, como vosso breve amor,
Soprou-me ironicamente o destino.

Por que me abandonaste?
Nuvem de ilusões.


Poemas inéditos

Janaína Bueno Bady (Porto Alegre, 1981) é professora de séries iniciais e de jovens e adolescentes em situação de rua ou de risco social. Formada em Filosofia, bacharel e licenciada, também cursou estudos na área da linguagem em nível de pós-graduação. Atualmente cursa um pós em Psicopedagogia Clínica e Institucional. Inicialmente fã de Augusto dos Anjos, seu aprendizado em poesia se deu em casa, com  orientação do companheiro Adriandos Delima sobre a leitura de poetas como Safo, Anna Akhmatova, poemas de haikaistas japoneses das três fases clássicas, Li Po (traduzido por Cecília Meirelles),  "Marichiko", poetisa imaginária criada por Kenneth Rexroth (traduzida por Adriandos), e e.e. cummings.
Quando lhe perguntam se é poeta, responde que não. Aprendeu a escrever por tédio e não quer escrever porque não saberia escrever.

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  ...Marcos Machado Nunes...


Cartilha


Primeiro
Ivo viu a uva

Depois
A professora

Ivo comeu a  uva
E foi brincar no pátio
      

 
  Poema inédito, década de 1990.  
Título por Adriandos Delima








PÁSSARO
(a   J.  Miró)

O canto é sua melhor gaiola –
traço sobre personagem muda.
Manchando rios, estrelas, horas,
o seu vôo é um paletó azul.

Para além da vista não há pouso
no rumo impreciso de seu álacre:
Círculos e trinos são o esboço
desse vôo que resume a ave.

Une étoile caresse le sein
que decifra a fêmea sideral.
Em trítonos – serpente, espiral
da noite que o pássaro persegue.

Tão calma ela se esconde entre luas
que um X aos arlequins aparta:
A mulher partilha com a ave
elipses do céu da Catalúnia.





Imagem principal: Joan Miró - Mulher cantora de ópera - 1934. Pastel sobre papel.

Fotomontagem: Adrian'dos Delima.


Poema publicado na revista "O Falares", nº 4, 1995, produzida por estudantes de letras da UFRGS.



Marcos Machado Nunes possui graduação em letras (bacharelado) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1996), mestrado (2001) e doutorado (2005) em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente exerce a função de leitor de português na Ruhr-Universität Bochum, na Alemanha. Foi leitor brasileiro na Universidade Eötvös Loránd, de Budapeste, entre 2006 e 2010. Também atuou como professor contratado da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul e professor substituto no Instituto de Letras da UFRGS. Tem experiência na área de letras, com ênfase em literaturas e culturas de língua portuguesa, teoria literária e literatura comparada e português para estrangeiros.

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poema visual de Ricardo Van Steen



Richard Belchior  Richard Serraria  )

Poesia Viva 

A grande cidade vai além dos muros
Assim como as paredes dão vida
às palavras soltas do cotidiano.

     A cidade fala por si só
    Em várias ruas desconhecidas e sem nome.

Nem tudo se esquece pela ação do tempo
E o que fica é poesia viva
Vagando por entre esquinas e pensamentos.             

                          



Poema publicado na revista "O Falares", nº 4, produzida por estudantes de letras da UFRGS.




Richard Belchior, mais conhecido como Richard Serraria 
é formado em Letras-Licenciatura pela UFRGS. Na época de estudante, foi fã de Mário Quintana, pesquisador de João Cabral de Mello Neto e agitador cultural, através da propagação de fanzines no ambiente acadêmico. Posteriormente, foi professor universitário e é, atualmente, vocalista e letrista premiado da banda "Bataclã F.C.", de Porto Alegre. 

Mais em http://pt.wikipedia.org/wiki/Richard_Serraria


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  Jéfferson Toupá



               psychedelia angelorum               


Oh anjo nascido em minhas oníricas fantasias
obrigado pelas noites que andei cabelo úmido de orvalho
com visões irreais galhos retorcidos & neon
obrigado pelos versos que vomitei com meus olhos  
queimando em lágrimas bêbado & chapado 
me arrastando entre as roseiras nos meus sonhos
obrigado pela inspiração brotada na fonte
vertendo ouro em minha mente calma ensandecida
pelos poemas escritos em fumaça no ar pés pra cima 
mãos na testa deitado na grama do jardim
obrigado por ter-me iluminado com o raio 
de luz da lua cheia que desce em meu rosto 
olhos fechados som do cosmo flutuando
Oh graciosa miragem misteriosa 
alucinação dos meus olhos turvos
obrigado por uma noite eu ter tido em mim
esta radiosa sensação de estar no paraíso 






 Poema publicado na revista "O Falares", nº 4, 1995, produzida por estudantes de letras da UFRGS.
Título por Adrian'dos Delima
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Mergulharei em escadas de areia entre o escuro e o nada

Mergulharei em escadas de areia entre o escuro e o nada
subindo os degraus do chão ao céu
penetrarei na casa construindo meus olhos?

Ocorre-me que sou o centro do universo
sete gatos atravessam a rua deserta
uma vida monótona está diante de mim
eu sou eterno nesta felicidade atemporal
que do alto do sobrado desfruto
onde posso ver o mundo sob meus pés
margem esquecida do mundo  

Eu filosofo e  divago de onde estou
para quem quer que esteja no público
um papel rola pelo chão
Vi cair o coração da humanidade
numa única bola incandescente e brilhante entre os tijolos
uma única estrela é minha testemunha
e esta parede quando nela me reclino
para olhar minha estrela solitária
recebe toda a essência do meu corpo
e isso se trasformará em uma questão

Onde entraram os sete gatos
saem agora uns três ou quatro
correndo para o outro lado da rua
a realidade entra pela janela num facho de luz
ninguém sabe quem ela é
Eu atiro uma pedra nos gatos que restaram
eles disparam como bólidos
a realidade cai nas escadas e se esfacela
finco uma faca na vida monótona
ela levanta-se com a boca cheia de sangue
ela avança sobre mim
eu lhe cuspo na cara ela volta
vem com nojo e com ódio
eu a atiro janela afora

Farei uma pergunta ao espaço sobre todas as coisas

Qual é mesmo
a essência das coisas?
Eu que já procurei em milhares de olhos-alma da rua
pergunto
não encontrei ainda
nem minha própria definição
porém
tenho em mim a certeza
de haver uma verdade única
procuro uma idéia entre as árvores
uma luz tênue, uma ternura
uma alegria oculta
entre uma eternidade
de mil dias frios, cinzas e chuvosos
à sombra das nuvens
acordarei os anjos
vou ser expulso do céu
e espero pra mim
Muitos elogios!

Poema inédito, final dos anos de 1980.


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Quando tórpida estás                   

    

  Já sei que tens sangue vermelho em tuas veias
e as negras pupilas dos olhos
que crescem quando tórpida estás
e os lábios carnudos que sorriem 
desvairadamente quando tórpida estás
e as mãos que se agitam freneticamente
e os envolventes e longos cabelos negros
presos atrás das orelhas a escorrer-te pelos ombros
que se movem como medusas quando tórpida estás
& eu te olho e busco algo ao olhar
para o alto no espaço estrelado
uma pura mentira que está o céu nublado 
e não consigo ver mas meus olhos
estão vermelhos
e não consigo ver pois meus olhos
estão turvos
eu já vi nuvens no chão e eu já vi nas nuvens coelhos
e só vejo como estás quando tórpida estás
quando tórpida os nossos cabelos
ficaram umedecidos pelo orvalho
insistente é hora de nos mandarmos dele
atravessas a rua como o arranque de um carro
quão veloz quando tórpida estás e eu
caminho calmamente por entre
latas de lixo onde gatos vadios entram e olham
procurando achar algo
como eu
que nada vi nas estrelas
estás aqui entramos por uma porta de ferro
torpidamente e me dizes que meus olhos
estão vermelhos quando mais  tórpida estás
atrás da porta cerrada sem ruído
és o aqui o que posso achar

  No quarto enquanto
colocas esse chapéu de longas abas
rodando com as mãos na cintura em frente ao espelho
eu ofegante vejo isto algo bestial
tuas mãos de luvas de seda começam 
a despir uma peça após outra
e em um espelho de mim eu te vejo cruel
e então agora és lenta quando tórpida estás?
quando tórpida estás
mais uma noite mais uma vez
quando tórpida estás
ontem hoje e amanhã talvez
e eu jamais por mais tórpida
diria jamais
quando tórpida estás 








 











 Françoise (2009), Cristina Vergano
                                    

Texto inédito do final da década de 1980, modificado por Adriandos Delima, em função de original ilegível.  


                                                                                              Jéfferson Toupá foi um poeta dos anos de 1980, de influência beat, cubista (Apollinaire) e surrealista (principalmente Artaud), além de Oscar Wilde, Edgar Allan Poe, Rimbaud, Baudellaire e, posteriormente, Fernando Pessoa e T.S.Eliot.  Herdeiro das práticas existencias da poesia marginal, participou de grupos de poesia na cidade de Canoas, RS.  Antes dos 20 anos de idade abandonou a escrita e mudou de vida. É,  atualmente,   Oficial de Justiça na cidade de Navegantes, Santa Catarina.                                                                                                                  
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Variações sobre aforismos zen

1.
se a mente é clara
o quarto escuro
tem um céu azul:
se a mente é escura
o quarto claro
escurece de sol

2.
o olho vê a mão
e não se vê
o tacto é o olho
da mão
o olho táctil
a mão vidente

o tactolhar
da mão olho
tactilvê-
se




      














haroldo de campos  



Poema de 1995, então inédito, que nos foi 
enviado por  fax e publicado em 
"O Falares", nº 4,  1995, revista produzida por estudantes de letras da UFRGS.  
Posteriormente foi publicado no livro     .  

Crisantempo: no espaço curvo nasce um, 1998.

Esteve, portanto, o poema, distante dos meios literários por 3 anos, embora já conhecido em um meio restrito na capital da província dos pampas.




Haroldo de Campos foi, na década de 1950 um dos fundadores da poesia concreta no Brasil, bem como de sua teoria, além de ser um dos principais tradutores deste país, dispensando apresentações.





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Cabrera da Silva



Ao que o poeta embriagado Adriano Poeta simplesmente a ele dizia
em uma mesa do Café Concerto Majestic
não sem antes haverem derramado cerveja preta sobre um calhamaço de versos

“O meu mundo
   em harmonia perfeita

              música e poesia

e ali o amor que quero conhecer”

vieram já estas linhas cursivas transcritas esferograficamnte por Cabrera da Silva
e estas, suas, intempestivas

    À poetisa,
     massagem
    da hora de ser feliz
  é teu
      poema
    me deixando
          voar

 É tua calma
     comocomo jaz
 no saber cantar
     silêncio
   de notas
no ter para
               beijos
 além de horas

Como somos
num piano
       Tão sós
que nos basta
        ouvir
  e são chuvas ...

                  À um piano
                       e à mão
                      que o toca,
                              certamente.



Poema inédito de Cabrera da Silva, com comentário anterior de Adriandos Delima, saído de uma mesa do Café Concerto Majestic, da CC Mário Quintana, em Porto Alegre,  diretamente para o bolso deste coletor de lixo.   





Admiração Intransitiva Da Beleza


Eu tava no ônibus sentado

Olhei pra cima
E tinha uma menina olhando pra fora

Ela tinha os cabelos muito bonitos


Em 17/05/1994, às 11h da manhã, no Bar do Antônio, Campus do Vale, UFRGS,  Cabrera da Silva queria dar um exemplo de como escrever um mau poema, ingênuo, infantil.
Disse estas palavras, e eu as anotei e dei título. Expressão chupada de Todorov.
Temos aí, um excelente exemplo de poema cubista cinematográfico. 
Quando a pessoa tem jeito, não tem jeito: nada do que invente é medíocre. Seria isto Arte naïf ou arte primitiva moderna? 


Cabrera da Silva era poeta de botequim, estudante de Sociologia, abandonou a UFRGS e não tenho notícias de que tenha se graduado posteriormente. Só se dedicava a escrever em mesas de bar, sob efeito alcoólico, e, possivelmente, mantenha o hábito até hoje, em algum lugar do mundo. Não há como saber. Simplesmente, não há notícias dele, desaparecido como foi Rimbaud.



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       Ѽ  ¿?¿??  Luciana Ferrari   (¿?¿??)...........                                                                                                                        

mesa posta, RUBENS GUILHERME PESENTI  












A mesa posta
tuas costas 
Gostas?





Luciana Ferrari, é para mim, um hieróglifo. Este poema, sem maiores informações sobre a autora, foi encontrado na revista “O Falares”, de nº3 do ano , produzida pelos estudantes de Letras da UFRGS na época, em 1993. Naquele ano eu ainda não participava da edição da revista e tampouco estudava naquela universidade. Se alguém obtiver mais informações sobre a autora do (excelente) poema, envie para poetargs@bol.com.br.


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