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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

três poemas de Giuseppe Ungaretti, com tradução de Jorge de Sena


      
SONO UNA CREATURA

Come questa pietra
del S.Michele
così freda
così dura
così prosciugata
così refrattaria
così totalmente
disanimata
Come questa pietra
è il mio pianto
che no si vede

La morte
si sconta
vivendo.


          Sou uma criatura

          Como esta pedra
          do S. Miguel
          assim fria
          assim dura
          assim enxuta
          assim refratária
          assim totalmente
          desanimada
          como esta pedra
          é o meu pranto
          que não se vê

         A morte 
         desconta-se
         vivendo.

Tradução Jorge de Sena


***
                                                    Retrato de Ungaretti por Serena Maffia


    IN MEMORIA.
    Locvizza il 30 settembre 1916.                        

Si chiamava
Moammed Sceab
Discendente
di emiri di nomadi suicida
perchè non aveva più
Patria

Amò la Francia
e mutò nome

Fu Marcel
ma non era Francese e non sapeva più
vivere nella tenda dei suoi
dove si ascolta la cantilena
del Corano
gustando un caffè

E non sapeva
sciogliere
il canto del suo abbandono

L’ho accompagnato
insieme alla padrona dell’albergo dove abitavamo
a Parigi
dal numero 5 della rue des Carmes
appassito vicolo in discesa

Riposa
nel camposanto d’Ivry
sobborgo che pare
sempre
in una giornata
di una
decomposta fiera

E forse io solo
so ancora
che visse

À MEMÓRIA DE  

Chamava-se
Maomé Cheabe
Descendente
dos emires dos nómadas
suicida
porque não tinha já
pátria

Amou a França
e mudou de nome

Foi Marcel
mas não era francês
e não sabia já
viver
na tenda dos seus
onde se escuta a cantilena
do Corão
saboreando um café

E não sabia soltar
o canto
do seu abandono

Acompanhei-o
junto com a patroa do hotel
onde habitávamos
em Paris
no nº 5 da Rue des Carmes
murcha viela em descida

Repousa
no cemitério de Ivry
subúrbio que parece
sempre em dia
de uma
feira levantada.

E talvez eu só
ainda saiba
que viveu. 


Tradução Jorge de Sena


***

 VEGLIA
( cima 4 del 23 dicembre 1915 )

 Un’intera nottata
 buttato vicino
 ad un compagno
 massacrato
 con la sua bocca
 digrignata
 volta al plenilunio
 con la gestione
 delle sue mani
 penetra
 nel mio silenzio
 ho scritto
 lettere piene d’amore


 Non sono mai stato
 tanto
 attaccato alla vita
          


VIGÍLIA                                                                                       

     Uma noite inteira
     atirado ao lado
     de um camarada
     massacrado
     com a sua boca
     desgrenhada
     voltada à lua cheia
     com a congestão
     das suas mãos
     penetrada
     no meu silêncio
     escrevi 
     cartas plenas de amor
    
     Nunca me senti
     tão 
     preso à vida.

Tradução Jorge de Sena


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