Muita arte na rede Ello. Visualize:

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sábado, 29 de janeiro de 2011

Passa um trabalhador e Silêncio, dois poemas verbais de Joan Brossa.

  PASSA UN OBRER

  Passa un obrer amb el paquet del dinar.

  Hi ha un pobre assegut a terra.

  Dos industrials prenen cafè
  i reflexionen sobre el comerç.

  L'Estat és una gran paraula.


         ***

PASSA UM OPERÁRIO

Passa um operário com o pacote do almoço.

Há um pobre assentado no chão.

Dois industriais pedem café
e refletem sobre comércio.

O Estado é uma grande palavra.


>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>

  SILENCI

  Escolteu aquest silenci

 ***

 Silêncio

 Escutai este silêncio


Traduções Adrian'dos Delima

GIUSEPPE UNGARETTI - Sereno, traduzido ao português.

Sereno
 
Dopo tanta
nebbia
a una
a una
si svelano
le stelle


Respiro
il fresco
che mi lascia
il colore del cielo


Mi riconosco
immagine
passeggera


Presa in un giro
immortale. 


Giuseppe Ungaretti

...

Sereno

Após tanta
névoa
uma
a uma
se revelam
estrelas

Respiro o
frescor
que me deixa
a cor do céu

Me reconheço
imagem
passageira

Tomada em viagem
imortal.

Tradução Adrian'dos Delima

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

I exceed my limits, poema de Jerome Rothenberg traduzido ao português.


                   

    





                                                                                                               

                                                                         I EXCEED MY  LIMITS
                                                                                                                         

by Jerome Rothenberg

I have tried an altenstil
& dropped it.
My skin is blazing, 
blazing too
the way I see your faces 
in the glass.
With the circle of the sun
behind me
I exceed my limits.
My garments are                                                       
from the beginning
& my dwelling place
is in my self(J. Dee)
It makes me want
to fly the stars
below the paradise of poets
lost in space.
I am the father of a lie
unspoken.
I can make my mind
go blank
then paw at you
my fingers in
your mouth.
I think of God
when fucking.
Is it wrong to pray
without a hat
to reject the call
to grace? I long to flatter
presidents & kings.
I long for manna.
I will be the first
to sail for home
the last to flaunt
my longings.
I will undo my garments
& stand before you
naked. In winter
I will curse their god
& die.             
                 
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Eu excedo os meus limites                                                                                                                                        



Eu tentei um altenstil
o deitei.
Meu couro está radioso,
radioso também
o modo como vejo teu rosto
no vidro.
Com a circunferência do sol
atrás de mim
eu excedo os meus limites.
Meus itens de vestuário
são  
lá dos primórdios
& meu local de residência
está no meu eu (J. Dee)
Isso me faz querer
tremular as estrelas
sob o paraíso dos poetas
perdido no espaço.
Eu sou o pai de uma mentira
não dita.
Eu posso deixar minha mente
em branco
& então me agarrar em ti
com os dedos em
tua boca.
Eu medito em Deus
quando fodo.
É errado se rezar
sem um chapéu
para rejeitar o chamamento
à graça? Eu espero agradar
presidentes & reis.
Eu espero por maná.
Eu vou ser o primeiro
a velejar para casa
o último a içar
minhas ânsias.
Vou desatar minha roupagem
& estacar ante vós
despido. No inverno
eu vou maldizer o deus deles
& expirar.


Tradução Adrian'dos Delima

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Nota: algumas alterações na tradução inicial foram feitas a partir de conversa com o autor, Jerome Rothenberg.
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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Do Inimigo Natural, velho poema de Adrian'dos Delima.

Numa época de tantas águas trágicas, um poema que cai bem (e se digere mal).






DO INIMIGO NATURAL



prainha
de pescadores
virada do avesso
  por uma onda

hosana
hosana sempre
por esta catástrofe
tão à-toa

casinhas
                                                                de crustáceos
à beira-mar

tragadas
            no embalo
de krakatoa                                                  




  1990

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Poema de Roland Dubillard, comediante e escritor francês, vertido por Diego Grando


poema número 88 de la boîte à outils.



RECUSA
A água não é um pé, não.
A garrafa não é um calçado, não.
O funil ajuda a água a se enfiar na garrafa, certamente.
Mas a calçadeira não é um tipo de funil.
Não. Não. Você não nos fará
Pensar dessa maneira.



//////////////////////////////



REFUS
L’eau n’est pas un pied, non.
La bouteille n’est pas une chaussure, non.
L’entonnoir aide l’eau à se glisser dans la bouteille, certes.
Mais la corne à chaussure n’est pas un genre d’entonnoir.
Non. Non. Vous ne nous ferez pas
Penser de cette façon-là.



Roland Dubillard, comediante e escritor francês


Tradução Diego Grando, publicada no blogue Ativastentativas





Tinha uma pedra que era da calçada
Botaram essa pedra no mei do meu caminho

Tinha uma pedra no mei do meu caminho

As pedras do caminho deixe lá pra trás
No amor e na eleição diz que tudo se faz
Caminhante não há caminho
Caminho se abre ao tropeçar

Adrian'dos Delima, claro


três poemas de Giuseppe Ungaretti, com tradução de Jorge de Sena


      
SONO UNA CREATURA

Come questa pietra
del S.Michele
così freda
così dura
così prosciugata
così refrattaria
così totalmente
disanimata
Come questa pietra
è il mio pianto
che no si vede

La morte
si sconta
vivendo.


          Sou uma criatura

          Como esta pedra
          do S. Miguel
          assim fria
          assim dura
          assim enxuta
          assim refratária
          assim totalmente
          desanimada
          como esta pedra
          é o meu pranto
          que não se vê

         A morte 
         desconta-se
         vivendo.

Tradução Jorge de Sena


***
                                                    Retrato de Ungaretti por Serena Maffia


    IN MEMORIA.
    Locvizza il 30 settembre 1916.                        

Si chiamava
Moammed Sceab
Discendente
di emiri di nomadi suicida
perchè non aveva più
Patria

Amò la Francia
e mutò nome

Fu Marcel
ma non era Francese e non sapeva più
vivere nella tenda dei suoi
dove si ascolta la cantilena
del Corano
gustando un caffè

E non sapeva
sciogliere
il canto del suo abbandono

L’ho accompagnato
insieme alla padrona dell’albergo dove abitavamo
a Parigi
dal numero 5 della rue des Carmes
appassito vicolo in discesa

Riposa
nel camposanto d’Ivry
sobborgo che pare
sempre
in una giornata
di una
decomposta fiera

E forse io solo
so ancora
che visse

À MEMÓRIA DE  

Chamava-se
Maomé Cheabe
Descendente
dos emires dos nómadas
suicida
porque não tinha já
pátria

Amou a França
e mudou de nome

Foi Marcel
mas não era francês
e não sabia já
viver
na tenda dos seus
onde se escuta a cantilena
do Corão
saboreando um café

E não sabia soltar
o canto
do seu abandono

Acompanhei-o
junto com a patroa do hotel
onde habitávamos
em Paris
no nº 5 da Rue des Carmes
murcha viela em descida

Repousa
no cemitério de Ivry
subúrbio que parece
sempre em dia
de uma
feira levantada.

E talvez eu só
ainda saiba
que viveu. 


Tradução Jorge de Sena


***

 VEGLIA
( cima 4 del 23 dicembre 1915 )

 Un’intera nottata
 buttato vicino
 ad un compagno
 massacrato
 con la sua bocca
 digrignata
 volta al plenilunio
 con la gestione
 delle sue mani
 penetra
 nel mio silenzio
 ho scritto
 lettere piene d’amore


 Non sono mai stato
 tanto
 attaccato alla vita
          


VIGÍLIA                                                                                       

     Uma noite inteira
     atirado ao lado
     de um camarada
     massacrado
     com a sua boca
     desgrenhada
     voltada à lua cheia
     com a congestão
     das suas mãos
     penetrada
     no meu silêncio
     escrevi 
     cartas plenas de amor
    
     Nunca me senti
     tão 
     preso à vida.

Tradução Jorge de Sena


sábado, 22 de janeiro de 2011

Chamber Music I, primeiro poema do primeiro livro de James Joyce, em português.




STRINGS in the earth and air
     Make music sweet;
Strings by the river where
     The willows meet.
 
There's music along the river
     For Love wanders there,
Pale flowers on his mantle,
     Dark leaves on his hair.
 
All softly playing,
    With head to the music bent,
And fingers straying
    Upon an instrument. 

                                  His name's James, James Joyce


CORDAS por terra e ar
     Fazem sons doces;
Cordas junto ao rio onde
     Chorões se encontram.

Há música ao longo do rio 
     Pr'Amor por lá vagar;
Flores pálidas no manto,
     Trazendo louros pardos.

Uma doce melodia,
     Cabeça ao toque pendente, 
Com a mão que vadia
     Nas cordas do instrumento.


                                                         Versão Adriandos Delima 




quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Chamber Music XX, poema de James Joyce em português.


Música de Câmara XX

NO escuro pinhal,
     Na sombra fria,
Aos dois eu punha   
     No pleno dia.

Quão doce beijar,
     Pôr-se ali,                                     
Onde os pinhos altos
     Se enavilham!         

Teu beijo pousando
     E mais tenro
Junto ao caos macio
     Dos cabelos.                        

Ó, no bosque dos pinhos,
     No dia ao meio,
Vem junto agora, 
     Amor, ao pleno.   

Tradução Adrian'dos Delima 

***



      N the dark pinewood
          I would we lay,
      In deep cool shadow
          At noon of day.
       
      How sweet to lie there,
          Sweet to kiss,
      Where the great pine forest
          Enaisled is!
       
      Thy kiss descending
          Sweeter were
      With a soft tumult
          Of thy hair.
       
      O, unto the pinewood
          At noon of day
      Come with me now,
         Sweet love, away. 
       
                                              James, James Joyce


        Nota da tradução: Enaisled - contaminação do verbo 
        "isle" (formar ilha) por "naisle" (nave   de igreja).

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Poema 348 de Emily Dickinson (I died for Beauty) em versão de Adrian'dos Delima

Não temendo traduzir poemas já traduzidos e retraduzidos, 
aí vai um clássico de Dickinson, 
já traduzido por 
Manuel Bandeira, 
entre outros.






***

I died for Beauty — but was scarce
Adjusted in the Tomb
When One who died for Truth, was lain
In an adjoining room —

He questioned softly "Why I failed"?
"For Beauty", I replied —
"And I — for Truth — Themself are One —
We Brethren, are", He said —

And so, as Kinsmen, met a Night —
We talked between the Rooms —
Until the Moss had reached our lips —
And covered up — our names — 

...
 
Fui morto pela Beleza – mas mal estava
Eu me ajeitanto sobre a Tumba –
Quando Outro – Um que foi morto pela Verdade
No Quarto ao lado foram pondo –

“Por que me arruinei?”, pergunta com voz suave
“Foi da Beleza”, Eu disse a Ele –
“Eu – da Verdade – Una com aquela –
Irmãos, nós somos”, Ele fala –

E então, tal Primos, certa Noite em visita –
Nós falamos de um Quarto a Outro –
Até que às nossas lápides o Limo veio –
E recobriu – nossas palavras –


Tradução Adrian'dos Delima 

+ + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + +
 


quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Decisões evolutivas poéticas, poema de Jorge Riechmann em português.



 Decisiones evolutivas poéticas
             

Los vitalistas se vuelven culturalistas
los culturalistas se vuelven vitalistas
y vuelta a empezar.
Los comunicacionistas se vuelven cognitivistas
los cognitivistas se vuelven comunicacionistas
y vuelta a empezar.
Los existencialistas se vuelven experiencialistas
los experiencialistas se vuelven existencialistas
y vuelta a empezar.
Los purísimopristinistas se vuelven socialrealistas
los socialrealistas se vuelven puros pristinistas
y luego
vuelta
a empezar
Vuelta a empezar
y la casa
sin barrer



(Extraído de entrevista ao jornal La Rioja)






***


Decisões evolutivas poéticas

Os vitalistas se tornam culturalistas
os culturalistas se tornam vitalistas
e de volta a começar.
Os comunicacionistas se tornam cognitivistas
os cognitivistas se tornam comunicacionistas
e volta a começar.
Os existencialistas se tornam experiencialistas
os experiencialistas se tornam existencialistas
e de volta a começar.
Os puríssimopristinistas se tornam socialrealistas
os socialrealistas se tornam puros pristinistas
e logo
de volta
a começar
De volta a começar
e a casa
sem varrer


Tradução literalrealíssima Adrian'dos Delima



NOTA DA TRADUÇÃO: Pristinismo é um critério utilizado na medição da biodiversidade de uma região, sendo base para alguns esforços de preservação desta. 


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sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Haikais do mexicano José Juan Tablada em português.


Tendo sido diplomata no Japão, o poeta mexicano 
(Cidade do México, 3 de abril de 1871 - Nova Iorque, 2 de agosto de 1945) tornou-se um dos precursores do haikai em língua castelhana, 
além de ser um precursor mundial do caligrama, 
escrevendo seus poemas visuais na mesma época que Apollinaire.








***




LA TORTUGA

Aunque jamás se muda,
a tumbos, como carro de mudanzas,
va por la senda la tortuga.


A TARTARUGA 

Se bem que nunca se mude, 
aos tombos, como carro de mudanças, 
vai pela trilha a tartaruga.

... 

LIBÉLULA

Porfía la libélula
por emprender su cruz transparente
en la rama desnuda y trémula

LIBÉLULA

Insiste a libélula 
em lançar sua cruz transparente 
no ramo desnudo e trêmulo. 

... 

EL PAVORREAL 

Pavorreal, largo fulgor,
por el gallinero demócrata
pasas como procesión.

O PAVÃO-AZUL

Pavão-azul, longo clarão,
pelo galinheiro democrata
passas como procissão. 

...

HOJAS SECAS

El jardín esta lleno de hojas secas;
nunca vi tantas hojas en sus árboles
verdes, en primavera.

FOLHAS SECAS

O  jardim está cheio de folhas secas;
nunca vi tantas folhas em suas árvores
verdes, na primavera.

...

LOS SAPOS

Trozos de barro,
por la senda en penumbra,
saltan los sapos.

OS SAPOS

Pedaços de barro,
pela trilha na penumbra,
saltam os sapos.

...

LUCIÉRNAGAS

Luciérnagas en un árbol...
¿Navidad en verano? 

VAGA-LUMES

Vaga-lumes em uma árvore...
Natal no verão?

...
  
LA LUNA

La Luna es araña
de plata
que tiene su telaraña
en el río que la retrata

A LUA

A Lua é aranha
de prata
que tem sua teia de aranha
no rio que a retrata

...

HONGO

Parece la sombrilla
este hongo policromo
de un sapo japonista

COGUMELO 

Parece a sombrinha
tal cogumelo policromo
de um sapo japonista

... 

PANORAMA

Bajo de mi ventana, la luna en los tejados
y las sombras chinescas
y la música china de los gatos.

PANORAMA

Abaixo da minha janela, a lua nos telhados  
e as sombras chinesas
e a música chinesa dos gatos.
 
...TONINAS

Entre las ondas azules y blancas
rueda la natación de las toninas
arabescos de olas y de anclas.

ATUNS

Entre as ondas azuis e brancas
roda a natação dos atuns
arabescos de ondas e âncoras.

...
 
PECES VOLADORES

Al golpe del oro solar
estalla en astillas el vidrio del mar.

PEIXES VOADORES

Ao golpe do ouro solar
estoura em cacos o vidro do mar.



Traduções Adrian'dos Delima