Adriano Nunes: as curvas do caminho para atingir a maestria
li, recentemente, “Antípodas tropicais” e “Laringes de
grafite”,
do poeta e tradutor alagoano Adriano Nunes
nesta ordem, a inversa em que foram publicados
e encontrei um excelente poeta que tenderia
a princípio
a fugir de algumas classificações
o pós-moderno, tomado não no sentido do ultramoderno inovador
mas simplesmente no sentido de uma necessária releitura dos
clássicos
foi o que vi no primeiro contato
um poeta que se aproximaria da chamada geração brasileira de
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no que ela tem de mais óbvio
porém
com um acréscimo de resíduos que pareceriam
estes sim
pertencer à poesia moderna mais moderna
lá estão a rima, a métrica, o soneto
nem sempre tão exatos em suas mais rígidas regras
não se está em hipótese alguma diante de um neoparnasianismo
mas também encontramos algumas (des)construções que lembram
a “tortografia” do poeta cummings
mais algum neologismo
ou seja
encontramos entre muito uso de regras antigas
elementos das vanguardas ou do experimentalismo
na minha leitura de trás para diante
encontramos a origem desta mistura de suaves tons
vanguardistas
em “Laringes de grafite”
livro que termina, emblematicamente, com um excelente poema
oferecido
a Lêdo Ivo, parecendo prefigurar as preferências do segundo
“Antípodas tropicais”
mas algumas páginas antes uma homenagem a Horácio
dá muito melhor o perfil de classicismo de “Laringes”
e
por outro lado
o livro traz traços vanguardistas como os supracitados com
maior visibilidade, radicalidade, e frequência que "Antípodas"
com o seu hábito de homenagear poetas vivos e mortos
não é por nada que vemos poemas oferecidos a
Augusto de Campos, José Paulo Paes, Ferreira Gullar, Caetano
Veloso, Régis Bonvicino
o poeta parece aí ajustar-se à fórmula maiakovskiana
de procurar uma linguagem correspondente àquilo que
desejamos comunicar
Maiakovski este que não é citado
mas na tradução de um dos irmãos Campos
nos vem à mente
já que o poeta alagoano recorre a um “coração engaiolado” em
dado poema
e não pensemos por isso que vamos encontrar um poeta
repetido ou repetitivo
pois Adriano Nunes se mostra mais um mestre que um diluidor
na classificação poundiana
e falando nos Campos
prova de mestria de Adriano (e experimental/vanguardista!) é
que este consegue
em dado momento, como no poema “ect”
ultrapassar grandes momentos dos maiores ícones da poesia
concreta
dito assim, Adriano poderia parecer em sua poesia mais
antiga
um poeta alinhado com a segunda onda vanguardista que
tomou conta do Brasil e do mundo depois da II Guerra Mundial
não sendo-o, a não ser em alguns momentos
temos, sem dúvida, em “Laringes de grafite” uma voz moderna
com um espírito jovem e inquiridor à moda avant-garde
mas acima de tudo, um
poeta muito moderno
escrevendo muitas vezes sem maiúsculas, algumas sem
pontuação
diferente do poeta de “Antípodas tropicais”
que aparenta mais um precursor da poesia moderna
sendo um excelente livro de poesia, uma leitura válida em
todos os sentidos
“Laringes de grafite” já trazia no seu bojo, no entanto,
o arcabouço básico de formalismo à moda antiga
que será expresso de forma mais insistente em “Antípodas
tropicais”,
sendo este arcabouço a característica predominante nas duas
obras,
parecendo ser o caminho escolhido pelo poeta daqui por
diante
Adrian'dos Delima