Muita arte na rede Ello. Visualize:
Muita arte na rede Ello:
sábado, 31 de março de 2012
quinta-feira, 29 de março de 2012
Poema do catalão Joan Salvat-Papasseit. Tradução Adrian'dos Delima.
Poema d’ La gesta dels estels (1922), Joan Salvat-Papasseit. Verdadeiro
feito de uma estrela.
Si jo fos
pescador
Si jo fos
pescador pescaria l´aurora,
si jo fos caçador atraparia el sol;
si
fos lladre d´amor m´obririen les portes,
si fos bandit
millor
que vindria tot sol:
-els
carcellers del món no em sabrien mai l´ombra,
si fos lladre
i bandit no em sabrien el vol.
Si tingués un
vaixell m´enduria les noies,
si volien
tornar deixarien llurs cors:
i en faria fanals
per a prendre´n de nous.
......................
Se eu fosse um pescador
Se eu fosse um pescador pescava a aurora,
Se eu fosse um caçador pegava o sol;
se fosse ladrão de amor me abriam as portas,
se fosse bandido melhor
que chegava eu só:
-os carcereiros do mundo não sabiam jamais da minha sombra,
se eu fosse ladrão e bandido não sabiam meu vôo.
Se eu tivesse um barco eu levava as moças,
se quisessem partir deixavam os corações:
e dentro faróis faria
pra poder entrar em outros.
Adrian'dos Delima tradutor.
Nota: infelizmente, a tessitura sonora não pode manter, na tradução, aliterações semelhantes às do original, com o recorrente uso do "l"
segunda-feira, 19 de março de 2012
Nocturn per a acordió, de Joan Salvat-Papasseit. Tradução Adrian'dos Delima.
Nocturn per a acordió, em Óssa Menor (livro de 1925, póstumo, do poeta
catalão vanguardista/futurista/visual Joan Salvat-Papasseit,
Barcelona, 1894 –1924)
Nocturn per a Acordió
Ossa Menor (1925)
A Josep Aragay
Heus aquí: jo he guardat fusta al moll.
(Vosaltres no sabeu
què és
guardar fusta al moll:
però jo he vist la pluja
a barrals
sobre els bots,
i dessota els taulons arraulir-se el preu fet de l'angoixa;
sota els flandes
i els melis,
sota els cedres sagrats.
Quan els mossos d'esquadra espiaven la nit
i la volta del cel era una foradada
sense llums als vagons:
i he fet un foc d'estelles dins la gola del llop.
Vosaltres no sabeu
què és
guardar fusta al moll:
però totes les mans de tots els trinxeraires
com una farandola
feien un jurament al redós del meu foc
I era com un miracle
que estirava les mans que eren balbes.
I en la boira es perdia el trepig.
Vosaltres no sabeu
què és
guardar fustes al moll
Ni sabeu l'oració dels fanals dels vaixells
—que són de tants colors
com la mar sota el sol:
que no li calen veles.
(Vosaltres no sabeu
què és
guardar fusta al moll:
però jo he vist la pluja
a barrals
sobre els bots,
i dessota els taulons arraulir-se el preu fet de l'angoixa;
sota els flandes
i els melis,
sota els cedres sagrats.
Quan els mossos d'esquadra espiaven la nit
i la volta del cel era una foradada
sense llums als vagons:
i he fet un foc d'estelles dins la gola del llop.
Vosaltres no sabeu
què és
guardar fusta al moll:
però totes les mans de tots els trinxeraires
com una farandola
feien un jurament al redós del meu foc
I era com un miracle
que estirava les mans que eren balbes.
I en la boira es perdia el trepig.
Vosaltres no sabeu
què és
guardar fustes al moll
Ni sabeu l'oració dels fanals dels vaixells
—que són de tants colors
com la mar sota el sol:
que no li calen veles.
NoturnoparaAcordeom NoturnoparaAcordeom NoturnoparaAcordeom
Noturno para Acordeom
A Josep Aragay
Eis-me aqui: venho cuidando toras nos molhes.
(Vocês não sabem
o que é
cuidar toras nos molhes:
porém tenho visto a chuva
aos jarrões
sobre os botes
e debaixo dos tabuões se enrodilhar o preço da angústia
(Vocês não sabem
o que é
cuidar toras nos molhes:
porém tenho visto a chuva
aos jarrões
sobre os botes
e debaixo dos tabuões se enrodilhar o preço da angústia
sob os pinhos-de-Flandres
e os mirtos melis,
sob os cedros sagrados.
Quando os polícias espionavam a noite
e a roda do céu era um túnel que abre
Quando os polícias espionavam a noite
e a roda do céu era um túnel que abre
sem luz nos vagões:
e fiz um fogo com ripas na goela do lobo.
Vocês não sabem
o que é
cuidar toras nos molhes:
porém todas as mãos de todos os vagabundos
como em uma farândola
faziam um juramento ao calor do meu fogo
E era como um milagre
que estendia as mãos que estavam duras.
e fiz um fogo com ripas na goela do lobo.
Vocês não sabem
o que é
cuidar toras nos molhes:
porém todas as mãos de todos os vagabundos
como em uma farândola
faziam um juramento ao calor do meu fogo
E era como um milagre
que estendia as mãos que estavam duras.
E na bruma se perdiam as pisadas.
Vocês não sabem
o que é
cuidar toras nos molhes
Nem sabem a oração das lanternas dos barcos
—que são de tal colorido
qual o mar embaixo do sol:
o que é
cuidar toras nos molhes
Nem sabem a oração das lanternas dos barcos
—que são de tal colorido
qual o mar embaixo do sol:
que velas não neles cabem.
Tradução Adrian'dos Delima
Notas da tradução:
"moll" significa "molhe", "cais" ou "porto"; é a origem da palavra "molhe em português". Inicialmente, usei "docas" na tradução. Porém, doca é um lugar fechado e abrigado, o que não parece mostrar a situação de "desabrigo" do poeta e seus achegados. A tradução mais exata seria "no cais". Mantivemos o cognato "molhe" em vez de "cais" por uma questão sonora.
"moll" significa "molhe", "cais" ou "porto"; é a origem da palavra "molhe em português". Inicialmente, usei "docas" na tradução. Porém, doca é um lugar fechado e abrigado, o que não parece mostrar a situação de "desabrigo" do poeta e seus achegados. A tradução mais exata seria "no cais". Mantivemos o cognato "molhe" em vez de "cais" por uma questão sonora.
"barrals" significa, literalmente, "cântaros", e então temos a expressão idêntica "chover aos cântaros". Porém, por uma questão de sonoridade, troquei cântaros por jarrões.
“flandes” significa a madeira do “pinho-de-flandres”, ou pinho-da-escócia, também conhecido como “pinho-de-riga”, ou à sua madeira, muito usada na construção civil e em marcenaria;
"mosso d'esquadra", espécie de polícia de fronteiras, portos e costas da Espanha na época, conhecida em castelhano como os "carabineros".
“flandes” significa a madeira do “pinho-de-flandres”, ou pinho-da-escócia, também conhecido como “pinho-de-riga”, ou à sua madeira, muito usada na construção civil e em marcenaria;
"mosso d'esquadra", espécie de polícia de fronteiras, portos e costas da Espanha na época, conhecida em castelhano como os "carabineros".
“melis” pode referir-se a qualquer tipo de madeira de pinheiro, mais comumente do já citado “pinho –de-escócia”, ou à madeira de uma árvore chilena que se se chama “melí” em castelhano; optamos pela árvore chilena, de boa madeira, aparentada do mirto;
“estelles”, que traduzo por “ripas”, significa, no texto original, pedaços de madeira, restos de madeira quebrados ou lascados, que o poeta usava para criar fogueiras;
“trinxeraire” é uma pessoa de vida vaga pelas ruas de uma cidade, sem emprego, pobre e desamparada, normalmente um jovem que é visto como um “pícaro”;
“farândola” é a dança de origem provençal, em que os pares, segurando-se pelas mãos, formam extensa fila que se movimenta de maneira agitada (Houaiss);
“balbe”: adjetivo, com as mãos, pés, ou língua sem movimentos e, algumas vezes, amortecidos, pelo frio ou pelo medo. Traduzi por “duras”, simplesmente, como dizemos no sul do Brasil “minhas mãos estão duras de frio”.
Mol de la Fusta, destino de barcos madeireiros, início dos 1970s. |
quinta-feira, 15 de março de 2012
John Ashbery: Obrigado por coisa nenhuma, um poema traduzido ao português por Adrian'dos Delima.
- T h a
n k Y o u F o r N
o t C o o p e r a t i n g -
Down in the street there are ice-cream
parlors to go to
and the pavement is a nice, bluish
slate-gray. People laugh a lot.
Here you can see the stars. Two lovers
are singing
separately, from the same rooftop: “Leave your change behind,
leave your clothes, and go. It is time
now.
It was time before too, but now it is
really time.
You will never have enjoyed storms so
much
as on these hot sticky evenings that are
more like August
than September. Stay. A fake wind wills
you to go
and out there on the stormy river
witness buses bound for Connecticut.
And tree-business, and all that we think
about when we stop thinking.
The weather is perfect, the season
unclear. Weep for your going
but also expect to meet me in the near
future, when I shall disclose
new further adventures, and that you
shall continue to think of me.”
The wind dropped, and the lovers
sang no more, communicating each to each
in the tedium
of self-expression, and the shore curled
up and became liquid
and so the celebrated lament began. And
how shall we, people
all unused to each other and to our own
business, explain
it to the shore if it is given to us
to circulate there “in the near future”
the why of our coming
and why we were never here before? The
counterproposals
of the guest-stranger impede our
construing of ourselves as
person-objects, the ones we knew would
get here
somehow, but we can remember as easily
as the day we were born
the maggots we passed on the way and how
the day bled
and the night too on hearing us, though
we spoke only our childish
ideas and never tried to impress anybody
even when somewhat older.
›› ›› ›› ››
- G r a t o p e l a n ã o-c o o p e r a ç ã o -
Descendo
a rua têm casas de sorvete para ir lá
e o
pavimento é um suave, azulado cinza-ardósia. As pessoas riem alto.
Aqui você
pode ver as estrelas. Dois amantes estão cantando
separadamente,
do mesmo telhado: "Deixa pra trás teu troco,
deixa tuas
roupas e vai embora. São horas já.
Eram horas
também antes, mas agora são mesmo horas.
Você
nunca vai ter curtido tanto os temporais
como
nessas noites pegajosas quentes que estão mais para março
que abril.
Espere. Um vento dissimulado quer ver você ir
e lá fora
no meio do rio tempestuoso endossar passagens
de ônibus a Connecticut.
E assuntos-em-árvore,
e tudo aquilo sobre o que pensamos quando deixamos de pensar.
O clima está
perfeito, a estação pouco clara. Chore por sua ida
mas
também espere me encontrar em um futuro próximo, quando hei de revelar
novas
aventuras mais, e que você vai seguir pensando em mim. "
O vento enfraqueceu,
e os amantes
não mais
cantam, (se falando) comunicando-se um e outro no tédio
da auto-expressão,
e
a praia encrespou-se e ficou líquida
e assim o
lamento celebrado iniciou. E como nós, pessoas
de todo incomuns
uns ao outros e a nosso próprio ramo, o explicamos
para a praia
se nos é dado
andar por
lá "no futuro próximo" o porquê da nossa vinda
e por que
nunca estivemos aqui antes? As contrapropostas
do
estranho-hóspede impedem nossa construção de nós mesmos qual
pessoas-objeto,
os que sabíamos que chegariam aqui
de algum modo,
embora possamos lembrar tão fácil como do dia que nascemos
os vermes
passados pelo caminho e como o dia vazou
e a noite
ao ouvir-nos também, muito embora expressemos somente nossas idéias
imaturas e nunca tentemos impressionar alguém
mesmo quando um tanto mais adulto.
Tradução e Fotografia e imagens Adrian'dos Delima
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