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Outros achados
&
perdidos
& procurados: outras vozes
&
falas dispersas
|
Aquilo que poderia ter se perdido. |
Achados&Perdidos&Procurados
Achados&perdidos&procurados é um espaço para poemas inéditos & semi-inéditos (publicados apenas, ou primeiramente, em jornais, revistas, fanzines, internet) de poetas conhecidos pelo trabalho com poesia ou que não-sendo reconhecidos como poetas propriamente, atuando em outras áreas, escreveram também poesia. Mas, principamente, é um espaço dedicado a poetas marginais, protopoetas, poetas de botequim, de final-de-semana, poetas populares, naif, outsiders, etc. Percam-se nesta página: há algo para achar.
Adriano de los D'Lima
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Aquilo que se perde ou com o que, às vezes, não se perde nada. |
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Rongorongo da Ilha de Páscoa, escrita marginal e não decifrada. |
ÍNDICIO PERMISSIVO
Percam-se neste índice: há algo para achar.
ج Janaína Bueno Bady
M Marcos
Machado Nunes
S Richard Serraria
x Jéfferson Toupá
H Haroldo
de Campos
?¿
Cabrera da Silva
Ѽ ¿?¿??
Luciana Ferrari (¿?¿??)...........
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Poesia marginal no final dos anos 1990:zine fotocopiado feitos através de colagens. Os editores eram Adriano Lima (MAD), Alessandro Pedroso (Zóio) e Luiz Eduardo Pereira (Brinco). O grupo de poetas praticava intervenções na região metropolitana de Porto Alegre. A produção gráfica lembra-nos, hoje, o trabalho de Eugenio Dittborn, com a sua Geopoética..
O
que é melhor para a poesia como arte: ser pop e disseminada em todos os campos
ou ser marginal?
Alguém
já disse que a boa poesia está à margem da margem. A cultura pop supõe uma
relação horizontal entre o artista e seu fruidor, rompe-se a linha de fronteira
entre a alta e a baixa cultura. Atendendo às demandas do seu público, o criador
resgata ao cotidiano da cultura da metrópole os insumos da sua arte. Embora eu
não defenda a poesia como uma seita catacúmbica, sociedade secreta, etc, essa
visibilidade excessiva e frívola da mundanidade pop também não me agrada.
Ronald Augusto a João Pedro
Wapler
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JANAÍNA BUENO BADY
Esferográfica Ou Aliquam Tempus
Caneta na mão,
Põe-se o monge
moderno
A compilar o livro.
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***
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Na
passagem cármica
Pela
Roda de Samsara
Um
Nirvanamor.
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O sol
vem rezar
Seu
ofício matutino
Entre as irmãzinhas.
|
***
PORTO
DOS CASAIS
Baixa
claridade.
O sol
de inverno declina
voltando pra casa.
***
O rio
ruboriza.
A
chaminé do gazômetro
desvanece em cinza.
***
De
dentro do ônibus
A
chaminé do gazômetro
Andando pra trás.
***
Fim de
tarde rubro.
No rio
de inverno o veleiro
Assopra o que penso.
***
Cortinas
balançam
Na
penumbra os fantasmas
Apenas o vento
***
Lágrimas
na face
Aceno
de despedida
O trem partiu
|
Castelo Interior Ou Moradas
(Andaremos Juntos Pelo Bosque Escuro)
“Com a ponta da bengala, traçarás palácios
em que viveremos felizes para sempre.”
Anna Akhmátova
Andaremos juntos pelo
bosque escuro,
Nunca te deixarei.
Por ti moveria montanhas,
Se necessário fosse.
Construiremos nosso
próprio mundo
e lá habitaremos com
Cícero, Marina e Isadora.
Seremos felizes e todas
as dores
do teu peito passarão,
Porque o amor estará
conosco.
E quando tudo isso me
será dado?
Perguntava-lhe.
Em breve, minha Amada,
Dizia-me.
Em breve, como vosso
breve amor,
Soprou-me ironicamente o
destino.
Por que me abandonaste?
Nuvem de ilusões.
Poemas
inéditos
Janaína Bueno Bady (Porto Alegre, 1981) é
professora de séries iniciais e de jovens e adolescentes em situação de rua ou
de risco social. Formada em Filosofia, bacharel e licenciada, também cursou
estudos na área da linguagem em nível de pós-graduação. Atualmente cursa um pós
em Psicopedagogia Clínica e Institucional. Inicialmente fã de Augusto dos
Anjos, seu aprendizado em poesia se deu em casa, com orientação do
companheiro Adriandos Delima sobre a leitura de poetas como Safo, Anna
Akhmatova, poemas de haikaistas japoneses das três fases clássicas, Li Po
(traduzido por Cecília Meirelles), "Marichiko", poetisa
imaginária criada por Kenneth Rexroth (traduzida por Adriandos), e e.e.
cummings.
Quando lhe perguntam se é poeta, responde que
não. Aprendeu a escrever por tédio e não quer escrever porque não saberia escrever.
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...Marcos
Machado Nunes...
Cartilha
Primeiro
Ivo viu a uva
Depois
A
professora
Ivo
comeu a uva
E foi brincar no
pátio
Poema inédito, década de 1990.
Título por Adriandos Delima
PÁSSARO
(a J. Miró)
O canto é sua melhor gaiola –
traço sobre personagem muda.
Manchando rios, estrelas, horas,
o seu vôo é um paletó azul.
Para além da vista não há pouso
no rumo impreciso de seu álacre:
Círculos e trinos são o esboço
desse vôo que resume a ave.
Une étoile
caresse le sein
que decifra a fêmea sideral.
Em trítonos – serpente, espiral
da noite que o pássaro persegue.
Tão calma ela se esconde entre luas
que um X aos arlequins
aparta:
A mulher partilha com a ave
elipses do céu da Catalúnia.
Imagem principal: Joan Miró - Mulher cantora de ópera - 1934. Pastel sobre papel.
Fotomontagem: Adrian'dos Delima.
Poema publicado na revista "O Falares", nº 4, 1995, produzida por estudantes de letras da UFRGS.
Marcos Machado Nunes possui graduação em letras (bacharelado) pela Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (1996), mestrado (2001) e doutorado (2005) em Letras
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente exerce a
função de leitor de português na Ruhr-Universität Bochum, na Alemanha.
Foi leitor brasileiro na Universidade Eötvös Loránd, de Budapeste, entre
2006 e 2010. Também atuou como professor contratado da Universidade
Estadual do Rio Grande do Sul e professor substituto no Instituto de
Letras da UFRGS. Tem experiência na área de letras, com ênfase em
literaturas e culturas de língua portuguesa, teoria literária e
literatura comparada e português para estrangeiros.
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poema visual de Ricardo Van Steen |
Richard Belchior ( Richard Serraria )
Poesia Viva
A
grande cidade vai além dos muros
Assim
como as paredes dão vida
às
palavras soltas do cotidiano.
A cidade fala por si só
Em várias ruas desconhecidas e sem nome.
Nem
tudo se esquece pela ação do tempo
E
o que fica é poesia viva
Vagando por entre esquinas e pensamentos.
Poema publicado na revista "O Falares", nº 4, produzida por estudantes de letras da UFRGS.
Richard Belchior, mais conhecido como Richard Serraria
é formado em Letras-Licenciatura pela UFRGS. Na época de estudante, foi fã de Mário Quintana, pesquisador de João Cabral de Mello Neto e agitador cultural, através da propagação de fanzines no ambiente acadêmico. Posteriormente, foi professor universitário e é, atualmente, vocalista e letrista premiado da banda "Bataclã F.C.", de Porto Alegre.
Mais em http://pt.wikipedia.org/wiki/Richard_Serraria
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Jéfferson
Toupá
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psychedelia
angelorum
Oh anjo nascido em minhas oníricas fantasias
obrigado pelas noites que andei cabelo úmido de orvalho
com visões irreais galhos retorcidos & neon
obrigado pelos versos que vomitei com meus olhos
queimando em lágrimas bêbado & chapado
me arrastando entre as roseiras nos meus sonhos
obrigado pela inspiração brotada na fonte
vertendo ouro em minha mente calma ensandecida
pelos poemas escritos em fumaça no ar pés pra cima
mãos na testa deitado na grama do jardim
obrigado por ter-me iluminado com o raio
de luz da lua cheia que desce em meu rosto
olhos fechados som do cosmo flutuando
Oh graciosa miragem misteriosa
alucinação dos meus olhos turvos
obrigado por uma noite eu ter tido em mim
esta radiosa sensação de estar no paraíso
Poema publicado na revista "O Falares", nº 4, 1995, produzida por estudantes de letras da UFRGS.
Título por Adrian'dos Delima
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Mergulharei em escadas de areia
entre o escuro e o nada
Mergulharei em escadas de areia
entre o escuro e o nada
subindo os degraus do chão ao céu
penetrarei na casa construindo
meus olhos?
Ocorre-me que sou o centro do
universo
sete gatos atravessam a rua
deserta
uma vida monótona está diante de
mim
eu sou eterno nesta felicidade
atemporal
que do alto do sobrado desfruto
onde posso ver o mundo sob meus
pés
margem esquecida do mundo
Eu filosofo e divago de onde estou
para quem quer que esteja no
público
um papel rola pelo chão
Vi cair o coração da humanidade
numa única bola incandescente e
brilhante entre os tijolos
uma única estrela é minha
testemunha
e esta parede quando nela me
reclino
para olhar minha estrela solitária
recebe toda a essência do meu
corpo
e isso se trasformará em uma
questão
Onde entraram os sete gatos
saem agora uns três ou quatro
correndo para o outro lado da rua
a realidade entra pela janela num
facho de luz
ninguém sabe quem ela é
Eu atiro uma pedra nos gatos que
restaram
eles disparam como bólidos
a realidade cai nas escadas e se
esfacela
finco uma faca na vida monótona
ela levanta-se com a boca cheia de
sangue
ela avança sobre mim
eu lhe cuspo na cara ela volta
vem com nojo e com ódio
eu a atiro janela afora
Farei uma pergunta ao espaço sobre todas as coisas
Qual é mesmo
a essência das coisas?
Eu que já procurei em
milhares de olhos-alma da rua
pergunto
não encontrei ainda
nem minha própria
definição
porém
tenho em mim a certeza
de haver uma verdade única
procuro uma idéia entre
as árvores
uma luz tênue, uma
ternura
uma alegria oculta
entre uma eternidade
de mil dias frios,
cinzas e chuvosos
à sombra das nuvens
acordarei os anjos
vou ser expulso do céu
e espero pra mim
Muitos elogios!
Poema inédito, final dos anos de 1980.
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Já sei que tens sangue
vermelho em tuas veias
e as negras pupilas
dos olhos
que crescem quando
tórpida estás
e os lábios carnudos
que sorriem
desvairadamente quando
tórpida estás
e as mãos que se
agitam freneticamente
e os envolventes e
longos cabelos negros
presos atrás das
orelhas a escorrer-te pelos ombros
que se movem como medusas
quando tórpida estás
& eu te olho e
busco algo ao olhar
para o alto no espaço
estrelado
uma pura mentira
que está o céu nublado
e não consigo ver mas
meus olhos
estão vermelhos
e não consigo ver pois
meus olhos
estão turvos
eu já vi nuvens no
chão e eu já vi nas nuvens coelhos
e só vejo como estás
quando tórpida estás
quando tórpida os
nossos cabelos
ficaram umedecidos
pelo orvalho
insistente é hora de
nos mandarmos dele
atravessas a rua como
o arranque de um carro
quão veloz quando
tórpida estás e eu
caminho calmamente por
entre
latas de lixo onde
gatos vadios entram e olham
procurando achar algo
como eu
que nada vi nas
estrelas
estás aqui entramos
por uma porta de ferro
torpidamente e me
dizes que meus olhos
estão vermelhos quando
mais tórpida estás
atrás da porta cerrada
sem ruído
és o aqui o que posso
achar
No quarto enquanto
colocas esse chapéu de
longas abas
rodando com as mãos na
cintura em frente ao espelho
eu ofegante vejo isto
algo bestial
tuas mãos de luvas de
seda começam
a despir uma peça após
outra
e em um espelho de mim
eu te vejo cruel
e então agora és lenta
quando tórpida estás?
quando tórpida estás
mais uma noite mais
uma vez
quando tórpida estás
ontem hoje e amanhã
talvez
e eu jamais por mais
tórpida
diria jamais
quando tórpida estás
Françoise (2009), Cristina Vergano
Texto inédito
do final da década de 1980, modificado por Adriandos Delima, em função de original ilegível.
Jéfferson Toupá foi um poeta dos anos de 1980, de influência beat, cubista (Apollinaire) e surrealista (principalmente Artaud), além de Oscar Wilde, Edgar Allan Poe, Rimbaud, Baudellaire e, posteriormente, Fernando Pessoa e T.S.Eliot. Herdeiro das práticas existencias da poesia marginal, participou de grupos de poesia na cidade de Canoas, RS. Antes dos 20 anos de idade abandonou a escrita e mudou de vida. É, atualmente,
Oficial de Justiça na cidade de Navegantes, Santa Catarina.
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Variações sobre aforismos zen
1.
se a mente é clara
o quarto escuro
tem um céu azul:
se a mente é escura
o quarto claro
escurece de sol
2.
o olho vê a mão
e não se vê
o tacto é o olho
da mão
o olho táctil
a mão vidente
o tactolhar
da mão olho
tactilvê-
se
|
haroldo de campos
Poema de 1995, então inédito, que nos foi
enviado por fax e publicado em
"O Falares", nº 4, 1995, revista produzida por estudantes de letras da UFRGS.
Posteriormente foi publicado no livro
.
Crisantempo: no espaço curvo nasce um, 1998.
Esteve, portanto, o poema, distante dos meios literários por 3 anos, embora já conhecido em um meio restrito na capital da província dos pampas.
Haroldo de Campos foi, na
década de 1950 um dos fundadores da poesia concreta no Brasil, bem como de sua
teoria, além de ser um dos principais tradutores deste país, dispensando
apresentações.
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Cabrera da Silva
|
Ao
que o poeta embriagado Adriano Poeta simplesmente a ele dizia
em
uma mesa do Café Concerto Majestic
não
sem antes haverem derramado cerveja preta sobre um calhamaço de versos
“O meu
mundo
em harmonia perfeita
música e poesia
e ali o amor
que quero conhecer”
vieram
já estas linhas cursivas transcritas esferograficamnte por Cabrera da Silva
e
estas, suas, intempestivas
À poetisa,
massagem
da hora
de ser feliz
é teu
poema
me deixando
voar
É tua calma
comocomo
jaz
no saber cantar
silêncio
de notas
no ter para
beijos
além de horas
Como somos
num piano
Tão sós
que nos
basta
ouvir
e são chuvas ...
À um piano
e à mão
que o
toca,
certamente.
Poema inédito de Cabrera da Silva, com comentário anterior de Adriandos Delima, saído de uma mesa do Café Concerto Majestic, da CC Mário Quintana, em Porto Alegre, diretamente para o bolso deste coletor de lixo.
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Admiração Intransitiva Da Beleza
Eu tava
no ônibus sentado
Olhei pra
cima
E tinha
uma menina olhando pra fora
Ela tinha
os cabelos muito bonitos
Em 17/05/1994, às 11h da manhã, no Bar do
Antônio, Campus do Vale, UFRGS, Cabrera
da Silva queria dar um exemplo de como escrever um mau poema, ingênuo,
infantil.
Disse estas palavras, e eu as anotei e dei
título. Expressão chupada de Todorov.
Temos aí, um excelente exemplo de poema cubista
cinematográfico.
Quando a pessoa tem jeito, não tem jeito: nada do que invente
é medíocre. Seria isto Arte naïf ou arte
primitiva moderna?
Cabrera da Silva era poeta de botequim, estudante de Sociologia,
abandonou a UFRGS e não tenho notícias de que tenha se graduado posteriormente.
Só se dedicava a escrever em mesas de bar, sob efeito alcoólico, e,
possivelmente, mantenha o hábito até hoje, em algum lugar do mundo. Não há como
saber. Simplesmente, não há notícias dele, desaparecido como foi Rimbaud.
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Ѽ ¿?¿??
Luciana Ferrari (¿?¿??)...........
|
mesa posta,
RUBENS GUILHERME PESENTI
|
A mesa posta
tuas costas
Gostas?
Luciana Ferrari,
é para mim, um hieróglifo. Este poema, sem maiores informações sobre a autora,
foi encontrado na revista “O Falares”, de nº3 do ano , produzida pelos
estudantes de Letras da UFRGS na época, em 1993. Naquele ano eu ainda não
participava da edição da revista e tampouco estudava naquela universidade. Se
alguém obtiver mais informações sobre a autora do (excelente) poema, envie para
poetargs@bol.com.br.
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